Podemos aprender a prever e a evitar os erros. Até um certo ponto! Há no entanto quem não se dê a esse trabalho e ainda há os que desejariam fazê-lo mas não podem, por este ou por aquele motivo. No entanto, no contexto técnico e científico, o erro tem de ser enfrentado no sentido de o minimizar. Mesmo assim, o erro é como a morte, inevitável. Caso contrário, seríamos perfeitos.
Sou dos que chegam a uma certa idade e pensam que muito mais importante do que criticar, xingar, ofender, descompor, destratar, afrontar, enxovalhar ou olhar de soslaio os que erram é mantermo-nos serenos sobre a sapiência que a experiência nos atribuiu de modo a olharmos o animal humano como um potencial criador de erro, uns sem darem por ele, os piores, outros cientes que criaram um bem para a humanidade ou tão só a sua comunidade e, finalmente, outros que aprendem com ele. A nossa imperfeição assenta na nossa incapacidade de realizarmos sem falharmos. Mas previamente a isso, assenta no facto de nem sequer sabermos a nossa origem e nem evitarmos o nosso inevitável destino, a morte, que tanto desejaríamos poder evitar, adiar que fosse…
Sou dos que chegam a uma certa idade e continuam a declarar que a vida não faz sentido, mesmo que esta declaração possa ser animosamente contrariada por aqueles que apenas por fé bacoca se vejam na necessidade forçosa de a contrariar. E a vida ainda menos sentido faz para os que erram sustentados numa (cega e vã) fé de que alguém acima de nós é infalível, tão infalível que criou uma série de animais tão falíveis…
Sou daqueles que chegam a uma certa idade e continuam a viver em paz com as suas fragilidades que tão a tempo aprendeu a conhecer. Porque a humildade de vivermos serenamente sobre os pequenos nadas da vida faz de nós seres vivendo livres do stress por vezes doentio que nos deprime. Começamos a morrer no preciso momento em que nascemos e quanto mais cedo percebermos essa inevitalidade mais cedo percebemos que conhecer a nossa origem como seres imperfeitos é um autêntico desperdício de tempo e de energias. E os desperdícios devem ser evitados porque não existem recursos inesgotáveis, incluindo o nosso tempo de vida. E uma segunda hipótese não nos é concedida…
E para aquelas almas perdidas que persistem no erro, já dizia o filósofo: “Errare humanum est, perseverare autem diabolicum”[1]…
Tema musical: Same Mistake de James Blunt in All the Lost Souls, © 2007.
Vídeo-clip: publicação oficial, re-editado e com legendas em Português por zebarbosaf.
Imagem frontal: cortesia de Bose Collins