É curioso como a esmagadora maioria dos Portugueses usa este acrónimo (muito provavelmente diariamente) e não sabe qual a sua origem. Sabem o significado, claro, porque todos sabem que WC é a forma mais curta para referirmos a casa de banho. Ou o quarto de banho. Ou a toalete[1]. Ou os sanitários. Ou o banheiro. Ou a casinha. Ou os lavabos. Ou qualquer outro nome que se usa por aí nas diversas modalidades linguísticas que resultaram da nossa incapacidade (Portugueses) de ficarmos quietinhos deitados no sofá a ver as telenovelas diárias, em vez de nos enviarmos a nós mesmos em cascas de nozes, tamanho familiar, por mares nunca de antes navegados.
De facto, WC vem da língua Inglesa. Um-zero, montes de Portugueses já ficaram a saber que esta coisa não é nacional. E também de facto esta dupla de consoantes constitui um dueto das iniciais de duas palavras também Inglesas: Water Closet. Dois-zero. E como uma grande parte dos Portugueses se está borrifando para o significado de Water Closet, porque acha que em terra de luso só de deve falar Português, eu vou colocar aqui a tradução das ditas cujas para a pequena maioria que, como eu, acredita que neste mundo deveríamos todos falar a mesma língua. Então, WATER significa água. CLOSET significa, genericamente falando, pequeno espaço fechado. Três-zero…
É precisamente neste pequeno espaço fechado, que apelidamos singelamente de WC, que experienciamos momentos de transcendência cavalgante. Onde todo o arrogante se reduz à sua insignificância inata ou nata e faz força tal e qual o mais humilde pindérico de nós. É onde fazemos gestos e ostentamos atitudes que em mais lado nenhum ousamos exteriorizar. É onde mostramos sem receio as mais escondidas fragilidades do nosso ser e estar. Onde nos tornamos intelectuais improváveis ao lermos infindáveis páginas de um massudo livro, ou de uma colorida revista, até que a matéria extrudida seque no nosso real ânus[2].
É também no WC que experimentamos momentos de prazer de elevada intensidade ao longo da nossa existência. Sexo? Também, mas por acaso nem estava a pensar nesse pequeno detalhe. Estava precisamente a pensar naquele curto e singelo momento em que evacuamos a carga mais à frente. Essa toda! Aquela sádica carga sólida ou líquida que temos amiúde de manter armazenada em nós contra todos os poderes do mundo. Aquela matéria que nos faz inchar, contrair, lançar esgares de aflição e desespero alternados com expressões faciais do tipo “tou bem, tá tudo sob controle” assentadas no nosso mais profundo ego de animais mentirosos. Doloroso, não é? Um autêntico atentado à dignidade humana. Essa cena de ter que aturar uns intestinos ou uma bexiga no limiar da sua capacidade, é do pior.
Digam lá então se esse momento em que baixamos as calças, quando estavam quase quase a serem manchadas por um impaciente xixizito ou um irreverente cagalhoto, e nos podemos libertar, digam lá se não é o mais supremo momento de alucinante prazer das nossas vidas. É! Para mim e para qualquer borra-botas que se diz mamífero inteligente e que transeúnda[3] por esse mundo fora. Libertar-nos é francamente libertador. Prazeiroso. Mesmo que seja apenas daquele peido que mantivemos lá dentro apertando bem as pernas, contraindo as nádegas, a barriga, a respiração ou qualquer outra biocoisa do nosso corpo, apenas para não passarmos pela vergonha de produzirmos aquela poluição sonora e/ou aromática comprometedora bem no meio de colegas ou quaisquer outros circunstantes da vida de baixo grau de familiaridade.
E se pensarmos bem, o WC, que com duas letrinhas apenas se escreve, é o maior amigo do Homem.
Bem haja…