Os valores da vida são uma coisa da puberdade. Talvez da adolescência mas isso nem sequer é importante. O que é importante é que quando se chega à minha idade, essa cena dos valores da vida já não faz sentido.
Valores da vida podem ser muita coisa. O puto da Rua Escura[1] terá os seus. Agora. Porque há 30 anos o puto da Rua Escura teria outros valores. O puto da Foz[2] tinha, há 30 anos, outros valores. Aos 18 anos temos essa mania dos valores. E ficamos com a mania durante vários anos depois. Definimos relações em função desses valores…
Valores são valores. Honestidade, sinceridade, fidelidade, seriedade, responsabilidade, família, irmandade, tolerância, respeito e outros são valores. Há tantos valores por aí fora. Tantos mesmo. Tantos que quando já não temos tanto tempo assim para viver, borrifamo-nos para isso. Estamos acima disso. Não perdemos tempo com valores…
Mas nós os velhos respeitamos a luta pelos valores de muitos dos novos. Apreciamos. Ficamos atentos à arte de bem defender e promover os valores. Talvez defendamos estes aqui, aqueles acolá. Por mero ato desportivo. Mas não conseguimos livrar-nos de um valor maior: a morte!
Não consigo ver-me livre da irrelevância da vida. Não consigo dar valor aos valores. Continuo a não encontrar un sentido para a vida. E já não encontro valor para os valores da vida…
Sei porque sentia prazer a resolver complexos problemas de matemática. Era já o eu velho mas ainda não o sabia…
Que os deuses sejam omnipacientes…