Te amo De Milhões

Expressão que ouvi em tempos lá pelo Brasil, Angola ou se calhar em ambos os lados. Alguém que nos diga isso está a expressar no múltiplo MILHÃO o quanto nos ama, independentemente da unidade utilizada. E nem interessa a unidade porque de facto milhão é muito mil…

João Félix Sequeira, jogador do Sport Lisboa e Benfica até há umas horas, terá muita gente a atirar-lhe por todos os media possíveis essa tão Africana frase, te amo de milhões. Eu até escorregaria na minha prose e lançaria a interjeição “Escandaloso!” mas não o farei. O mundo que somos nós chegou a este ponto. Um puto de 19 anos deixa de estudar porque dá uns toques jeitosos na bola e pimba, vai ganhar 7 milhões de euros por ano. Não, não me atrevo a fazer contas. Eu sou mais do tipo décadas. Centenas, em dias de festa quando já todos estão bêbados.

Não façamos contas. O mundo do futebol é um mundo à parte. Que um clube pague 120 milhões de euros por um puto que ainda mal deu provas do que vale, não é mais surpreendente. O mundo do futebol é já há algumas décadas um mundo fantástico, um mundo das maravilhas, um mundo de sonho, um mundo alien, um mundo com leis próprias. E nesse mundo de outro mundo se movem personagens ódicos[1] que vão evoluindo no sentido da excentricidade extrema que nós, simplórios transeúntes de uma vida chata e descolorida, cada vez menos entendemos e cada vez mais aceitamos como sempre aceitámos a existência dos deuses do Olimpo[2].

João Félix será mais um Renato Sanches[3] do que um Cristiano Ronaldo[4]. Mas ele, João Félix, não sabe isso. Nem quer saber, porque num só ano vai ganhar o suficiente para nunca mais ter de trabalhar na vida. A partir daí tudo o que vier é lucro. E a fama alimenta o ego. E nós somos cada vez mais ego-dependentes. A nossa vaidade não nos deixa ser diferentes. E não há nada melhor no mundo do que uma opulenta vaidade recheada de uma opulenta fortuna em géneros.

Nenhum ser humano é alguém ajuizado aos 19 anos. Nem eventualmente nos 10 anos seguintes. Por isso o puto, agora convertido num ser teológico pelo capitalismo futebolístico, precisará de uma mãe coruja e galinha por perto. Ou várias. Porque os abutres à sua volta também serão mais que as mães. Porque esta é a lei natural da vida. A nossa vida, seres que se autodestroem por dá cá aquele euro. Ou milhão, para os “special-ones.

Que os deuses se compadeçam…

  1. Derivada da palavra Inglesa “odd”, ímpar.
  2. Embora esta dos deuses do Olimpo habite terrenos da mitologia.
  3. Um miúdo estrela, também ex-Benfica, que o Bayern de Munique se encarregou de apagar.
  4. Um outrora miúdo ex-Sporting Clube de Portugal que o facto de ser feito de uma massa interestelar o transformou num ser intergalático.

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