TAPando buracos

Se eu fosse economista não estaria muito provavelmente a escrever este artigo. E porque não? Porque não sou dotado da visão economicista da vida como o são, muito corretamente, os economistas. Eu, qual comum transeúnte da vida entre muitos outros que por aí transitam, sou dotado de uma visão míope umas vezes, hipermetrópica outras mas uma visão sempre dominada pela liberdade de escrever o que livremente penso. Na vida devemos manter uma postura política onde a atitude crítica deve ser uma constante…

Estou em crer de há muitos anos a esta parte[1] que uma gestão empresarial em que o sentimento ou a emoção é o vetor dominante só pode ser uma fraca gestão. Pode até trazer alguns bons resultados e ser duradoira mas continua a ser uma má gestão. Estou também em crer de há muitos anos a esta parte que a gestão perfeita é a que conduz ao lucro maximizado. Um sistema capitalista sem a adoração ao lucro é simplesmente uma falácia. E não faltam empresários tipo falácia em Portugal, para mal dos nossos pecados[2]

Tapar buracos até pode ser uma prática de boas gestões. Mas acima de tudo das más, embora neste caso essa ação seja a regra. No caso das boas gestões é a exceção. E não faltam em Portugal buracos que devíamos ter tapado há muito porque o nosso normal, histórico, é vivermos sob más gestões. E um dos buracos é indubitavelemnte a TAP, Transportes Aéreos Portugueses. Um grande buraco de há muitos anos a esta parte. Buraco em todos os sentidos, nos maus, nos muito maus, nos execráveis, nos abomináveis e ainda nos frequentes atentados ao senso comum, ao bom senso e à decência no comportamento humano em sociedade. A TAP já deveria ter sido extinta há muito, ter virado passado, ter-se transformado em peça de museu, ter-se convertido em meros ais e uis nostalgicos. A TAP faz parte da minha vergonha de fazer parte de um país que sempre vive muito para além das suas possibilidades. E eu tendo a desrespeitar quem vive para além das suas possibilidades. Logo não respeito a TAP. Logo, não respeito quem a tem mantido moribunda desde 1975…

Não precisamos de ter uma transportadora aérea nacional para nos sentirmos portugueses. Os nossos emigrantes não serão menos portugueses se vierem visitar o seu país numa outra qualquer transportadora aérea. Eu nunca senti orgulho em ser português só porque Portugal possui uma transportadora aérea. Eu voei imensas milhas nesta minha já longa vida, tantas que fez de mim “senator”[3]. Mas a TAP passou-me sempre ao lado. Não porque não tivesse voado nos seus aviões mas porque sempre a vi como uma companhia de índole provinciana. Isso, índole provinciana. Oh, esse comportamento empresarial de uma nação de fadistas… Negócios a sério não se gerem suportados em sentimentos e muito menos em emoções. A TAP, que para muitos portugueses sempre foi a enorme TAP, sempre foi para mim a TAPezinha. Apenas e simplesmente porque estou em crer, de há muitos anos a esta parte, que a gestão perfeita é a que conduz ao lucro maximizado. E a TAP anda a penar de há muitos anos a esta parte. E a solicitar constantemente a comisseração dos portugueses que, embuídos desta terrível mentalidade fadista, se têm prestado a atribuir à TAP a esmola que têm recebido dos países europeus, de há muitos anos a esta parte…

Num exercício para não-financeiros, como eu, coloquemos a seguinte questão: que interessa manter uma empresa com receitas de 100 milhões por ano se no mesmo período nos suga 300 milhões? Só porque os emigrantes gostam de vir de férias num aviãozinho comprado em suaves prestações, com um grande logotipo TAP e umas hospedeirinhas vestidas a rigor, cheias de atitude em desuso tipo “sou mal encarada porque sou portuguesa”? Tudo isso porque acreditamos que possuir uma transportadora aérea é tão patrioticamente simbólico como a nossa bandeira e o nosso hino nacional? Talvez porque, por pena, queremos manter os postos de trabalho que geram prejuízos desde há décadas e por isso temos que ser nós, os outros que não trabalham na TAP, a suportar esses tantos postos de trabalho que não têm cumprido a sua função com brio e rigor? Porque se o tivessem feito não estaríamos hoje a discutir mais injeções de capital, mais restruturações organizativas, mais estratégias de operação. Enfim, não estaríamos hoje a discutir mais formas de outra vez disfarçar, com lavagens e pinturas a 2 ou 3 demãos, um monte de ferro velho já tão cheio de buracos e buraquinhos abertos pela ação corrosiva de sucessivas administrações. Administrações que mais não fizeram que brincar aos aviões e aos aeroportos, com a complacência das centenas de funcionários tão cheios de uma orgulhosa atitude “a la” funcionalismo público, bem à portuguesa…

Está na hora de declarar o óbito da TAP e enterrá-la com honras de estado, porque já foi, já foi sim senhor, um admirado símbolo da nação, em tempos idos que já lá vão. Caso contrário, continuaremos a ser apenas uma nação de fadistas carpindo, ad aeternum, mágoas em Sol maior.

Até quando?

Leia um artigo com uma outra visão sobre este assunto. Aqui!

  1. Ó como eu gosto desta expressão “de há muitos anos a esta parte”…
  2. Ó como eu gosto desta expressão “para mal dos meus pecados”…
  3. Um nível de frequent flyer no programa de incentivos da Lufthansa em conjunção com a Star Alliance.

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