Coloque-se duas pequenas crianças num quarto com apenas um brinquedo que ambas gostam muito. Em menos de nada ambas estarão se guerreando para conquistar o brinquedo. Ninguém as instruiu para guerrear afim de conquistar. Poderiam primeiro ter tentado partilhar o brinquedo mas não, guerreiam-se. E o brinquedo será pertença exclusiva da criança mais forte. Normal! É a natureza do animal humano, a sua essência…
O ser humano é naturalmente egoísta, social por conveniência, adere com facilidade à guerra com os seus pares para atingir os seus objetivos. Em geral, vive exclusivamente para alcançar o (seu) lucro máximo, muitas vezes não importando para isto que os meios utilizados sejam em detrimento de valores éticos e legais, ou, como sói dizer-se, os fins justificam os meios. Ou então os meios justificam os fins. Ou ainda, diz a sabedoria popular, cada um quer levar água ao seu moinho e deixar em seco o do vizinho. Ou outra ganância qualquer…
As sociedades podem ser classificadas em ocidentais, orientais, do norte e do sul. Certo? Talvez não. As sociedades podem ser classificadas em ricas e pobres. Certo? Talvez não. As sociedades podem ser classificadas em branca, amarela, preta e parda. Certo? Talvez não. As sociedades podem ser classificadas como capitalistas, candidatas a capitalistas ou não capitalistas? Certo? Talvez não… As sociedades são e não são tudo e nada ao ritmo da ganância de cada uma. As sociedades são entes agitados, correndo desvairadamente para lá e para cá, para cima e para baixo, para trás e para a frente, sem saberem muito bem porquê e para quê. As sociedades tornaram-se, em suma, espécies loucas…
As ideologias são cada vez menos o alicerce da atividade sócio-política humana. Vive-se cada vez mais para obter o poder e com ele obter o bem-estar pessoal ou do grupo a que se pertence. Na política proliferam os populismos e as extremas-direitas em fluidos discursos com a cor, o aroma e o sabor mais ansiados pelo povinho. E o povinho alinha. E o povinho acredita. E o povinho troca liberdade por segurança. Os seus sentidos tornam-se deveras seletivos e faz de conta que a felicidade existe, porque o importante é que cada um possa comprar tudo o que efetivamente não precisa mas que lhe proporciona um elevado estatuto social. E quanto mais se desgata a lutar pelo estatuto, mais faz enriquecer de poder os que se destacam clamando ou gritando, a torto e a direito, discursos fluidos com a cor, o aroma e o sabor que faz o povinho crer. E quando o povinho crê, não duvida. Não questiona. E se transforma numa massa social de seres dominados. Pela ganância…
E todos parecemos concordar com o estado das coisas, disfarçando aqui e ali com umas manifestações de rua, mais ou menos violentas mas sempre plenas de folclore. E entre guerras e perigos esforçados, a sociedade deve estar louca…
Tema músical: “Society” por Eddie Vedder in Into the Wild (filme), © 2007
Video-clip: ao vivo com Liam Finn no Warner Theatre, Washington DC (USA), 2008, legendado em português por zebarbosaf.
Imagem frontal: de Into the Wild (filme).