Psicose do Contato

Boa, agora já não me exocrinam…[1]

Todos aqueles meus colegas chatos de uma vida que sempre desdenharam da minha pouca afeição ao cumprimento diário (aperto de mão ou beijo), não vão ter agora fio para fazer renda: o contato físico é ilegal! Será doloroso, né? Sim, em todas as décadas de vida apenas encontrei uns poucos “mau-feitio” como eu que sempre acharam que era tão ridículo estar diariamente a cumprimentar formalmente gente que vemos todos os dias, muitas horas ao dia. Mas nós somos a exceção porque a regra é aquela atitude peganhenta de estar sempre a tocar nos outros…

E há quem se cumprimente 3 vezes ao dia: quando chega de manhã, quando regressa do almoço e quando sai no fim do dia. Alucinante! Uma coisa que contada a extra-terrestres seria motivo de uma resposta à tuga: “Pois…”. Malta, nós vemo-nos todos os dias, xiça! Tão a ver? Imaginem um casal a fazer sexo TODOS os dias. “Ah, muito bom, assim é que é” dirão os gajos que têm a mania que são como as pilhas Duracell. Não, não é bom. É estúpido!

Nunca entendi essa necessidade diária de apertar mão de colega-gajo ou oscular colega-gaja. E porque nunca entendi, não pratico. Sou assim, mau-feitio, não pratico o que não entendo. E por isso mesmo não estou nessa de “ah, que falta faz um abraço”. Esqueçam, não faz falta nenhuma. Isso é coisa que tuga imagina que sim, que faz falta. Não faz, não compliquem. Falta faz umas bebedeiras com os amigos enquanto se diz mal deste e daquele, umas passeocas à beira-mar a fazer de conta que estamos numa de ginástica de manutenção, umas jantaradas a comer que nem abade e a falar cada vez mais alto quanto mais se bebe, uns golpes de vista (à falta de melhor…) às garotas pimponas que se passeiam por esse mundo, enfim, uma série de banalidades que tornam a vida um pouco menos sem sentido.

Pois bem, no meu retorno ao local de trabalho, quando já não justificar o tele-trabalho (ao qual me adaptei lindamente e que me fará chorar quando acabar) quero que os meus colegas estejam bem-informados: só levam um “bom dia, boa tarde” como sempre levaram de mim. Porque eu sou mesmo assim, dispenso o sistemático e robotizado contato físico! Não será por causa do COVID-19, não. Será porque sempre foi, porque sou mesmo assim e não me apetece nada mudar. E podem continuar com as vossas cantigas de escárnio e maldizer porque, ó… Olha aqui, entra por um a 100 e sai pelo outro a 1000.

Vá, não inventem, permaneçam calmos, abracem o travesseiro ou as almofadas quantas vezes quiserem, apertem a mão ao gato e beijem as costas da vossa mão (depois de convenientemente desinfetada). Ainda vamos ficar encafuados no nosso “lar, doce lar” por mais um tempinho.

Dilbert é um “cartoonista” que já sigo há algum tempo. Tem a sua piada, o rapaz…[2]

  1. O termo é de minha autoria e está ligado à Glândula exócrina que produz secreções. Baseia-se na minha imaginação que me leva a pensar que quando alguém “exocrina” está a produzir uma secreção maligna assim do tipo ácido sulfúrico ou hidróxido de sódio. O termo também se baseou no termo “azucrinar“, o qual existe mesmo.
  2. Na realidade DILBERT é a personagem e não o “cartoonista”. Mas enfim, habituei-me a ver Dilbert como alguém real cheio de humor sarcástico. Tal e qual eu… O autor desta personagem é Scott Adams.

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