Hyderabad, Dezembro 7 — Descobrindo terras que outros tugas outrora descobriram por mares nunca de antes navegados…
Prefiro chegar lá de avião. Por muito que deteste esse meio de transporte que para mim é cada vez menos espaçoso. E cada vez mais penoso. Mas é o que é. A Índia. Na qual ocupámos abusivamente Goa, Damão e Diu. Em tempos que éramos capazes de ocupar abusivamente. Já não somos…
Esta Índia multicultural. Multiespiritual. Multilíngue. Multitudo. Um bilhão e trezentos mil seres que nunca irei entender. Multicultural. Multilíngue. Multitudo. Onde casta é um palavrão. Uma complexidade. Um problema. Uma incompreensão. Multitudo. Multiplicidade. Afinal, é entrar e sair. Qualquer tentativa de compreensão é um atentado a mim mesmo…

Perto do Charminar Temple, Hyderabad.
E é um atentado à mulher. Ao sexo feminino. A esse bicho que ri sem saber porquê, ama sem entender porquê, odeia porque sim, faz peito a sabe-se lá o quê. Que luta por aquilo que luta porque luta. Mulher. Que ser. Que provocante. Que cena. Que feições estarão por baixo da vergonha que é o que sabe-se lá o quê. Tapada. Dos pés à cabeça. Sem peito. Sem curvas. Sem forma. Sem liberdade…
Esta é a Índia do nosso contentamento para quem de nós se contenta. Que tão incapaz fui de gozar a vista. A visita. Porque estas mulheres tapadas na sua existência me impediram de ver. De olhar. De conhecer. De registar para relatar. Me bloquearam. Me fizeram pensar vezes sem conta em quem se submete a existir sem ser visto. Sem existir. Sem poder provocar exibindo o que de bom tem e a faz sentir bem. Esta mulher que para além de viver sem existir o faz nas mais extrema negritude da sua existência que não existe…
Que os deuses se fodam…