Os Modismos Do Nosso Linguajar

Por cá, o povo continua em plena modernização dos seus hábitos e do seu linguajar. Afinal de contas, o ser humano é uma coisinha influenciável que vai navegando pela vida fora sobre marés e contra-marés, alternando entre uns flips aqui e uns flops acolá. O desejo de sermos top+ faz-nos querer ser e ter mais que muito e muito mais que os outros mas como o pelim não abunda nos pockets de vários de nós, vamos aderindo ao DIY que é a nova forma de dizer “faça você mesmo”…

… e na organização empresarial, os subordinados passaram a ser colaboradores;
os patrões ou diretores gerais passaram a ser os CEO;
as crianças mal comportadas passaram a ser crianças hiperativas;
os velhos passaram a ser idosos;
o ensino primário passou a ensino básico;
os contínuos das escolas passaram a assistentes operacionais;
produtos agrícolas fertilizados com bosta são agora produtos biológicos;
os jornais, as revistas, a TV e a rádio passaram a ser os media;
o muito passou a bué;
o sim passou a ya;
o acontecimento fantástico passou a dizer-se ‘cena brutal’;
chagar um colega até dizer chega passou a ser bullying;
o desmancha-prazeres passou a ser o/a spoiler;
o cansaço passou a stress;
o fim de um prazo agora é a deadline;
os homossexuais passaram a ser gays;
a paixão por alguém é um crush;
imprimir um texto passou a printar;
um auto-retrato é uma selfie;
o conhecimento passou a ser know-how;
trabalhar a tempo parcial agora diz-se trabalhar em part-time;
a reunião de partilha de conhecimentos sobre um tema chama-se agora workshop;
uma bebida é um drink;
o estilista ou projetista passou a designer[1];
a refeição da manhã, algo ali entre o pequeno-almoço e o almoço, passou a ser o brunch;
o saudoso “Soares é fixe” seria hoje “Soares é cool“;
a resposta a um parecer de alguém passou a ser o feedback;
o chefe é agora o manager;
a equipa de trabalho passou a ser o staff;
o serviço de entrega de produtos em casa é agora o delivery;
a compra de comida no restaurante para consumo em casa é agora o take-away;
a suspensão temporária de trabalhadores é agora o lay-off;
a lista de verificações passou a ser a checklist;
o acompanhamento de algum assunto ou tema é agora o follow-up;
a pessoa que se mata de trabalho é agora um workaholic;
a pessoa que está sempre a mudar os canais da TV diz-se que faz zapping;
o desgraçado que se dizia estar mais morto que vivo, diz-se agora que é um zombie;
ir ao médico para uma verificação geral é um check-up;


FIG – E outros que tais… (imagem de um original de autor desconhecido)

… e tudo isto temperado com paletes de hashtags a pipocar por essas redes sociais afora onde proliferam facebookers, youtubers ou tiktokers que nem cogumelos. E mushrooms[2] é como tudo na vida, há uns que se comem, outros é melhor não, são venenosos…

  1. A palavra inglesa “designer” tem vários significados.
  2. Cogumelos.

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