Os nossos médicos sempre foram uns iluminados. E tanta iluminação tem trazido os seus proveitos à classe dos ditos cujos que ao longo de muitas décadas tem sido uma classe de previlegiados. Ser médico em Portugal significa estar bem de vida e pronto, não falta juventude a querer ser mais um doutor…
Mas a parte que mais me irrita é a solução que eles engendraram para tratar de gente abonada de gordura como o “je”. Isso, um “moi même” dotado de uma avantajada vontade de comer. E de beber. E não estou falando propriamente de água… Enfim, mudando de assunto, acontece que que essas vedetas da nossa sociedade, a elite das elites, atira com pacientes como eu para as calendas gregas simplesmente dizendo “o senhor emagreça e volte cá”! Ponto final…

Não sei porque motivo muita gente anda correndo por esse país, por praias e calçadas fora trajado a rigor, mas imagino que um deles seja a vaidade. É mais uma cena tipo “olha malta, topa bem os meus bícepes, trícepes e quadrícepes a dar, a dar…”. Assim aquela mesma humilde razão que leva essa gente aos ginásios que, em paralelo com os supermercados, dizem ser lugares de engate. O povo tá numa de saúde, gente. Pronto, saúde acima de tudo e no resto Deus existe é para alguma coisa. Numa de imortalidade que nem um altivo Highlander. Ou pelo menos que dê para viver mais uns anos a gozar os prazeres da carne.
Bom, o que interessa é por em cima dum corpinho Danone uma roupinha toda bem escolhida, Nike de preferência porque dá no olho, e mostrar ao mundo o que temos de melhor enquanto damos umas corridas cheios de estilo. Muitos desses atletas nem se preocupam em consultar primeiro um médico para ver se a corrida é a solução ideal para os seus problemas de saúde, que eles nem conhecem, e muito menos se preocupam com a hora do dia mais adequada para correr. O que interessa é fazer o que os outros fazem porque, diz a inveja, se eles fazem eu também tenho de fazer. Teoricamente, claro está. Porque na realidade só copiamos nos outros aquilo que é uma cena de massas. É que cena de massas tá na base de “a maioria vence”, eu vou ficar bem na fotografia e pode ser que caiam uns proveitos. É que cidadão comum tá sempre demasiado ocupado para perder tempo com essa coisada de “temos que ser críticos e não umas maria-vai-com-as-outras”. O senso-comum impera em Portugal, o bom-senso afundou-se algures no imenso mar Português…
A obesidade é um sintoma de bem-estar! Eu já disse isto, certo? Mas é verdade, as sociedades bem-postas e ditas evoluídas encontraram nos prazeres da carne a sua moda da atualidade. Os “chefs” são as vedetas da atualidade e os programas sobre culinária dominam os canais TV deste país. Chegamos ao ponto de copiar aquela cena que valeu por ser original, criada pelo famoso Gordon Ramsay e de seu nome Ramsay’s Kitchen Nightmares. Bom, não perco tempo com esses programas de culinária que se destinam tão somente a convencer-nos que cozinhar é que é e a convidar-nos a engordar. É que chega a parecer que existimos para comer, muito mais que comemos para continuarmos a existir…
Bom, tá na hora de eu ir jantar. Ou seja, comer! Pouquinho porque quero voltar a dar dinheiro aos meus médicos. Senão coitadinhos, com tanta gente a engordar vão ter que parar de dizer “emagreça e apareça” ou então correm o risco de ficarem pobres. E eles não sabem ser pobres! É que consultas a 80 ou 100 euros por cinco minutos de treta não são coisa para desperdiçar. E com isto não estou a maldizer nem a depreciar a classe médica deste país. Mas eu preferiria que eles fossem tão bons como os médicos Cubanos e ao mesmo tempo tão menos arrogantes como os mesmos. Tá certo, de vez em quando gosto de fantasiar…
Que os deuses nos dêem asas para correr até mais não…