Nos tempos que correm, em que metade do mundo se esforça para emagrecer enquanto outra metade se esforça para ter algo para comer, fica sempre bem falar de dietas…
É já assumido em Portugal que a obesidade é um problema de saúde pública. Se fossem só os velhotes ou até os cotas a sofrerem disso, até não seria muito mau. O pior é que a obesidade já invadiu as gerações menores. Hoje em dia, ver crianças já com sérios problemas de excesso de peso faz-nos ter saudades da célebre “dieta mediterrânica” de que tantos nos orgulhavamos. Afinal nós eramos magros ou não tão gordos porque não tinhamos dinheiro para comer o que engorda. E se por um lado o povo diz orgulhosamente “o que não mata engorda”, por outro o mesmo povo mata-se a engordar. Sim, a obesidade é uma doença. Deixemo-nos de rodeios. Quais gordinhos quais quê! Somos gordos, ponto. E somos gordos porque comemos o que engorda, comemos mais do que o nosso corpo necessita e preferimos esticarmo-nos no sofá a ver uma telenovela do que ir passear com os amigos por lugares onde ainda não é preciso andar de máscara.
Desde que me conheço que adoro comer. E adoro comer coisas com sal, com pimenta e com gordura. E, como eu, também muitos outros Portugueses que são fãs incondiconais dos bons enchidos, queijos e doçarias que por cá se fazem. A obesidade é um sinal de qualidade de vida: temos tempo e lugares para comer do bom e do melhor, temos dinheiro e ainda temos tempo para a ociosidade. Preferimos o porco à vaca (mais gordura, melhor sabro), a carne ao peixe porque a sabedoria popular diz que “peixe não puxa carroça”, as batatas aos legumes e, acima de tudo, consumimos tudo isso na base do “comi que nem um abade”. Depois, depois é só colocar este corpinho sobre uma bela duma balança digital e pimba, excessivo índice de massa corporal[1].
Por esta razão, procurei o meu pequeno almoço ideal. Pensei, pensei, pensei e sempre me ocorriam soluções gulosas. Por isso só posso concluir que sou guloso. Dou a vida por coisas doces e salgadas. Literalmente! Até que apareceu um compromisso entre algo de científico, algo de guloso e algo que trouxesse pelo menos algumas vantagens. E aqui vai a receita:
- leite gordo
- sementes de linhaça moídas
- flocos grossos de aveia
- bolacha maria sem açucar
- tostinhas
- mel
Aquece-se ligeiramente o leite numa malga da sopa, coloca-se uma colher de sopa de sementes de linhaça, uma colher de sopa de flocos de aveia, meia-dúzia de bolachas Maria aos bocados, umas quantas tostinhas e por cima mel em quantidade a gosto. Deixar estar em repouso enquanto se prepara para ir trabalhar e depois é só atacar a coisa. Quantidade de calorias? Muitas. O pequeno-almoço recebeu erradamente o nome pois essa refeição até deveria ser bem grande dado que o nosso corpo passou cerca de 8 horas fazendo nada, é certo, mas sem ingerir quaisquer sólidos ou líquidos. Por isso mesmo, até porque o nosso cérebro entra em hibernação quando passamos ao modo sono, a primeira refeição do dia tem que ser agradável e algo energética como esta. Vejamos então o que representa cada um dos ingredientes deste fabuloso pequeno almoço.
— Leite Gordo
Leite ou é gordo ou então é melhor beber chá[2]. O leite deve ser inteiro, como é gerado pela natureza. E aqui a natureza é um animal. E o animal mais usado é a vaca. Há com certeza milhões de artigos a falar dos benefícios do leite, como este por exemplo. Vale o que vale. Nesta coisa da arte de bem nutrir o que hoje é verdade amanhã não sei, não sei.
— Sementes de Linhaça
Dificilmente digeridas pelo estômago pelo que devem ser moídas. Resumidamente, “Cada colher de sopa de linhaça tem 8 g de fibras, (mais do dobro do que contém um kiwi), que atuam como reguladoras do trânsito intestinal, têm um efeito saciante (favorecendo a manutenção de um peso adequado), reduzem os níveis de colesterol e ajudam a controlar os níveis de açúcar no sangue, entre outros benefícios.“. E a parte que gosto é a regulação do trânsito intestinal. Nada melhor que uns intestinos a carburar ao máximo para quem gosta de comer e de beber quase tudo. Para além disso, nesta bonita frase sacada de um site que pode visitar aqui, aprecio o ataque a cenas como diabetes e colesterol, famosas doenças de sociedade.
— Flocos de Aveia
É de certa forma redundante às sementes de linhaça: “É um cereal muito completo, composto por hidratos de carbono complexos, proteína, vitaminas, minerais e fibra”. Tem no entanto a vantagem de ser algo mastigável, enche a boca e dá uma sensação de saciedade[3]. Encher a boca é importante quando se está com fome e eu sempre acordo com fome.
— Bolachas e Tostinhas
Muito simples: é agradável comer estas coisas impregnadas de leite e mel. O estômago dá um alarme de saciedade se houver uma expansão do mesmo até um certo limiar (ou se for enganado). Ou seja, há que dar que fazer aos tremendos ácidos que habitam no nosso estômago e que estão pela manhã zangados porque nada fizeram durante a noite…
— Mel
Um elixir da vida. Há quem diga “Além de ser utilizado como adoçante natural, o mel também pode ser usado para fortalecer o sistema imunológico, melhorar a capacidade digestiva e até aliviar a prisão de ventre. Além disso, o mel é considerado anti-séptico, antioxidante, anti-reumático, diurético, digestivo, expectorante e calmante.“. E há quem o use em variadíssimas outras cenas gourmet assim tipo “brandy com mel”. Há muito que substituí o açucar por mel no meu café, chá e leite[4].
Hoje em dia não faltam nutricionistas por aí fora. É como os treinadores de bancada no futebol, todos sabemos muito sobre qualquer coisa. Na realidade, este pequeno-almoço é algo que consumo (não diariamente) com prazer. Não sou intolerante ao leite, o qual não larguei desde que saltei cá para fora. Bebo-o frio ou muito frio, morno ou quente. Simples ou com café. Quanto ao resto, apenas a linhaça e aveia têm algo que ouvi de nutricionistas a sério, tenham eles razão ou não. O tempo o dirá como sempre o tempo o diz. O que importa é que a solução resulta no essencial: tenho os melhores intestinos e estômago do mundo, é um momento alto no meu início de dia, colesterol e diabetes não têm piorado e continuo um jovem de pele sedosa. É o que interessa…
Que os deuses estejam com quem os merece…
- Só para ter uma ideia do IMC, clicar aqui.
- Uma opção para quem é intolerante ao leite.
- Esta sensação é fundamental para pararmos de comer. Por outro lado aguenta-se melhor as inúmeras horas que se seguem ao pequeno-almoço até uma nova refeição
- Detesto o adoçicado natural do leite.