Respeitinho, não se aprochegue, posso espirrar uns corona-vírus sem querer! Espirrar apenas perdigotos é desagradável mas ainda vá que não vá, limpa-se com a palma da mão e pronto! Agora, espirrar corona-vírus é mortal. O ser humano é caricato, parece-me. Eu diria mais, a humanidade é um livro de quadradinhos cheio de cenas caricatas desempenhadas por personagens caricatos. Sim, somos uma autêntica banda desenhada onde aparece de tudo, os heróis, os anti-heróis, os quase-heróis, os bandidos, os quase-bandidos e os figurantes…
Agora discute-se a terminologia correta para “Vamos manter o distanciamento social”. Chegam os iluminados deste mundo, aqueles que acham que sem eles andaríamos todos às escuras, e dizem “Devemos garantir o distanciamento físico e manter a proximidade social”. Bonito, pensamento bonito! Assim tipo “não praticamos sexo mas praticamos amor platónico”. É isso, só nos faltava esta para sermos felizes. Sem dúvida, o que interessa mesmo é usarmos as palavras certas, sermos politicamente corretos. Assim tipo, dizer “colaboradores” em vez de “trabalhadores”. Ou “género” em vez de “sexo”. Ou “criança hiper-ativa” em vez de “criança irritante”. Ou “técnica auxiliar administrativa” em vez de “mulher da limpeza”. Ou “Departamento de Pessoas” em vez de “Departamento de Recursos Humanos”. Ou “invisual” em vez de “cego”. Ou “criança com insuficência de aprendizagem” em vez de “criança burra”. Ou outras manigâncias linguísticas no sentido de darmos valor a frases feitas tipo “a falar é que a gente se entende” quando eu até acho que muitas vezes é a falar que nos desentendemos…
Eu mantenho a distância, física e social, há várias décadas. A minha pele não suporta a peganhosice do cumprimento de mãos constante, do abraço constante, do beijo constante, enfim a invasão da minha bolha de ar que constitui a minha privacidade e intimidade. Sou emocionalmente um ser estável. Mas as pessoas que choravam a rodos por causa do distanciamento durante o estado de emergência são pessoas que sofrem de desequilíbrio emocional crónico. Sim, há muita gente a sofrer deste mal. São todas as pessoas que em situação normal não passam cartão nenhum aos avós, pais e irmãos e que quando se vêem forçadas à distanciação passam a vida a chorar e a lamuriarem-se porque estão distantes de pessoas por norma distanciadas. Bom, se isto não é desequilíbio emocional então é taradice aguda, um termo mais ao meu jeito. Não faltam malucos por esse mundo fora mas eu só falo dos que conheço, os tugas. Os tugas são uns fiteiros! Aproveitam qualquer coisinha que sirva de razão para se lamuriarem. Tuga adora carpir mágoas. E sofrem de saudadite aguda quando não têm mais que fazer ou em que pensar. Por isso mesmo, vimos tugas a ligarem-se via Skype, WhatsApp, Facebook Messenger ou outro que tal, a pessoas que já não viam ou nem sequer nelas pensavam há décadas. Isso mesmo, de repente deu-se um boom de sentimentalidade nas carolas dos tugas e o dispensável passou a ser indispensável. De repente passaram todos a serem carentes e pimba… Aproximaram-se de quem estavam infinitamente afastados há “séculos”. Muitas lágrimas, muitas pieguices, muito “amo-te tanto, tanto, tanto que nem sei quanto”…
Esta pandemia não está a ensinar nada a ninguém. Mal acabou o estado de emergência, um estado de afastamento forçado pela autoridade nacional, e pimba, voltaram todos à parvoeira. A parvoeira de dizerem à boca cheia na TV, quando são entrevistados, “sim, estamos a cumprir todas as regras ditadas pela DGS e OMS” quando estão milhões de par de olhos do lado de lá do quadradinho mágico a verem que esse cidadão não tem máscara, está numa “rave”[1] onde ninguém também tem máscara e onde estão todos encavalitados uns nos outros. Para melhorar a cena, o exemplar cidadão vai respondendo posicionado a menos de um metro do entrevistador que, por sua vez, só colocou máscara no microfone. Este é o tuga no seu melhor: tuga cumpre sempre tudo, os outros é que não…
Vá lá, nada de encurtar a distância. Qual distância? A distância, pá…