Porque muito se fala sobre o poder do silêncio na comunicação quando efetivamente o silêncio é apenas uma coisa como qualquer outra coisa, que será apenas poderosa se usada inteligentemente. Caso contrário torna-se algo tão vulgar como qualquer outra vulgaridade.
O senso comum está pejado de frases (feitas) sobre o silêncio. O silêncio é d’ouro. Silêncio não significa esquecimento. Quem cala consente. O silêncio é um amigo que nunca trai. O silêncio é uma confissão. Transformado em ditado uma vezes, poesia outras, o silêncio é meramente a ausência de som. E tão depressa pode ser ouro como lixo. Como veneno. Porque o silêncio não vale por si nem por quem o pratica mas acima de tudo por quem o ouve.
É sensato, em fases da vida em que coabitamos com a ignorância, ouvir mais que falar. Aqui, o silêncio permite-nos a concentração necessária para ouvirmos e entendermos quem fala o que sabe. Aqui, o silêncio é d’ouro. Mas quando já sabemos o que o nosso silêncio nos permitiu ouvir com atenção, então falar é a opção correta. Porque se assim não for, o nosso silêncio pode ser traduzido por quem o ouve como algo negativo. A insegurança traduz-se em silêncio. O medo traduz-se em silêncio. A ignorância traduz-se em silêncio. O desinteresse traduz-se em silêncio. A ausência de substrato intelectual traduz-se em silêncio. E é nestas circunstâncias todas que o silêncio não é apenas ausência de som. É a ausência da capacidade de emitir sons.
O som do silêncio é por isso mais o que os outros recebem do que aquilo que emitimos. Igualmente para o som das palavras. Porque a mesma palavra proferida com o mesmo tom pode ser recebida de formas substancialmente diferentes, dependendo de quem a ouve. Como ouve. Onde ouve. Quando ouve. Com quem ouve. A comunicação é emissão e receção. E nenhuma é mais ou menos importante que a outra. E a comunicação está cheia de sons. E de silêncios. De silêncios bons. De silêncios maus. De silêncios tímidos. De silêncios arrogantes. De silêncios cúmplices. De silêncios impostos. Isso, quantas e quantas vezes o nosso silêncio nos é imposto. Tal como o silêncio dos outros lhes é imposto. Porque o silêncio é ouvido por muitos como inofensivo. Conveniente. Enquanto ouvido por outros como poluição. Desesperante. Frustrante.
Pessoas conversando sem falar. Pessoas ouvindo sem escutar! Pessoas silenciando quem fala. Pessoas falando de quem silencia. Em tudo isto, o poder do silêncio é apenas poesia. Ou talvez não. Depende de quem se cala para que outros o ouçam. E eu calo-me para ouvir “Simon & Garfunkel” num flashback a anos idos de ouro. Anos idos que realmente já lá vão mas relembrar coisas boas é bom. Reconfortante. Em silêncio. Um silêncio bom…
Que os deuses nos acompanhem…
Tema Musical: “The Sound Of Silence” por Paul Simon & Art Garfunkel in “Wednesday Morning, 3 A.M.” ©1964
Vídeo-Clip: ao vivo em Madison Square Garden, 1990, com legendas em Português por zebarbosaf[1].
Imagem Frontal: cortesia de Naouri Redouane
- Legendas em ficheiro WebVTT criado pela aplicação freeware Subtitles Edit que pode ser encontrada aqui.