Começo por reconhecer que me enganei no primeiro artigo sobre este tema pois a Ucrânia não foi humilhada e por consequência nós, os utentes deste mundo dito civilizado, não voltámos às nossas vidinhas diárias nos moldes ditados há muito pela ordem mundial. De facto, contra tudo e contra todos, ainda vemos a Ucrânia a resistir, embora me pareça que o seu destino será, a curto prazo, o mesmo das vítimas deste cruel urso[1], ou seja, acabará nas goelas do predador…
Impressionante a forma como este povo eslavo, por quem ninguém dava nada, está a resistir ao fim de 15 dias de invasão, considerando o desiquilíbrio de forças entre invasor e invadido. Também impressionante é a resistência deste presidente, Volodymyr Zelenskyy, que todos menosprezavam apenas porque tinha sido um comediante. Sim, nós os animais humanos somos muito preconceituosos em relação a tudo, adoramos rotular tudo e todos e dificilmente nos libertamos dos rótulos por nós próprios criados. Sim, este “comediante” está a demonstrar uma coragem surpreendente, uma vontade até agora inquebrável de formar à sua volta uma verdadeira nação ucraniana, coisa que não se via desde que a Ucrânia se tornou independente como consequência da desintegração da União Soviética em 1991. Pelos vistos, este “comediante” está a envergonhar muitas cabecinhas pensadoras que por esse mundo fora já tinham decidido que Zelenskyy seria o primeiro a fugir perante a ameaça do urso, à semelhança do que aconteceu com o governo do Afeganistão perante o avanço dos Talibãs, outras bestas que gostam tanto de dominar e massacrar quanto o criminoso Vladimir Putin e as suas marionetes.

FIG – Ucrânia, bombardeamento de alvos civis (maternidade) pelo exército russo.
Hoje, em conversa informal sobre o ataque do urso com um moldavo que vive em Portugal já há muitos anos, ouvi e fixei um comentário seu: “cuidado com os russos, quando decidem que querem uma coisa não param enquanto não a obtêm”! É isso aí, os russos não vão parar enquanto não refizerem esse esterco que foi o império soviético e, por isso, a Ucrânia é só o princípio. E quem os vai parar? Ninguém! A Rússia é apenas a maior potência militar do mundo liderada por um narcisista psicopata com acesso a um poder de destruição que daria para destruir o mundo umas quantas vezes. A parte inútil desta informação é que o mundo depois de destruído não dá para destruir outra vez, desiderato para o qual o bicho Vladimir Putin se está borrifando completamente. Ele e todos os lambe-cus, lambe-botas ou afins que o rodeiam e que o ajudarão, com certeza, a ultrapassar em fama e proveito pessoal um outro bicho russo da História da humanidade, de seu nome Estaline, tão apreciado pelo nosso Partido Comunista Português[2]. Veremos! Isto se por cá ainda andarmos e assim pudermos continuar a ler História…
O mundo ocidental já começa a gemer e ainda só demos os primeiros passos nesta guerra! A guerra entre Rússia e Ucrânia, que os russos cinicamente não reconhecem como guerra, só poderia resultar numa crise económica global, apesar de só estar a acontecer entre dois países aqui na zona Europa-Ásia. As sanções económicas são a única arma que os Europeus querem usar contra a Rússia, em nome da paz mundial, mas são que nem pau de dois bicos ou faca de dois gumes: atingem ambos os contendores, Rússia e Europa. Um impacto ainda ao-de-leve a curto prazo mas que será mortal a médio/longo prazo. Aqui em Portugal já toda a gente estrebucha e Portugal nem sequer é assim tão dependente dos fornecimentos russos. O problema é que este sistema capitalista que tanto adoramos é perverso por isto mesmo. O capitalismo é que nem uma petulante e fogosa fogueira que nos atrai a ela para nos sentirmos tão quentinhos e felizes que até esquecemos que fogo também queima e mata! E se há quem seja fã incondicional da política de terra queimada é precisamente a Rússia e suas lideranças mafiosas. Essa toda, a Rússia de Putin ou a Rússia de não-Putin, pouco interessa porque de facto estamos perante uma questão de raça perversa na sua essência. Basta ver o quanto o povo russo[3] está indiferente à carnificina que ali, mesmo ao ladinho, os seus soldados estão a levar a efeito em atos de heróica bravura sobre crianças, grávidas e idosos…
Eu concordo com quem diz que há um preço a pagar pela liberdade. Ora, aqui, nesta “operação militar especial”[4] russa, está precisamente em causa e em risco a liberdade dos povos. O respeito mútuo. A auto-determinação. A soberania dos povos. Será muito mau se nós ocidentais ficarmos, tal e qual como os russos, indiferentes ao facto de um povo invadir e exterminar outro só porque sim ou porque apenas tem o poder militar para o fazer. Torna-se por demais óbvio que se o fizermos, ou seja, se permanecermos comodamente indiferentes, pagaremos mais tarde o preço dessa indiferença passando a ser potenciais vítimas desse povo exterminador que extermina só porque sim. Se não o fizermos, ou seja, se enfrentarmos as ameaças autocratas deste mundo afim de nos mantermos democratas, temos que estar preparados para pagar o preço alto de permanecermos em democracia, livres, auto-determinados e em paz. Neste caso, temos que deixar no stand o carro topo de gama, nas lojas os telemóveis de última geração, as roupas de marca, em suma, abdicar temporariamente do conforto e luxo a que provavelmente estavamos habituados e partir para a luta. Convenhamos, a invasão e destruição da Ucrânia pelos russos é também a invasão e destruição das nossas vidas neste lado ocidental do mundo, onde a democracia é um valor a respeitar e, por isso, a manter.
Queremos enfrentar o urso? Talvez não, talvez sim! Os próximos dias serão cruciais mas, claro, temos medo. Medo do Armagedão[5], medo que o narcisista e psicopata Putin pressione o tal botão do apocalipse final, num dos seus cada vez mais frequentes momentos de masturbação intelectual. Medo que a Rússia se torne amiguinha da China, da Coreia do Norte e de outros regimes totalitários ou autocratas que sendo militarmente menos poderosos não são contudo menos perigosos. Territórios onde muitos são dominados e sugados por poucos. Territórios onde o cidadão normal não se pode dar ao luxo de pensar e muito menos de se manifestar pois isso dá direito a pena de prisão ou de morte. Esta é a hora de corrigirmos erros passados e decidir. Queremos enfrentar o urso adotando a mesma exemplar coragem de Volodymyr Zelenskyy e seu povo ou queremos continuar a ser mais uns inertes nesse teatro de marionetes às mãos dos Vladimir Putin, Xi Jinping ou Kim Jong-un desta vida? Não ouso avançar prognósticos! A vida por si só não faz sentido mas menos sentido fará se optarmos por passá-la em guerras idiotas que mais não são que puros conflitos entre vaidades…
Moral da história: a derrota da Ucrânia será também a nossa derrota!

FIG – E então, todos teremos de aprender a falar russo…
- Grozny (Chechénia, 1999), Abecázia e Osssétia do Sul (Geórgia, 2008), Crimeia, Donetsk e Lugansk (Ucrânia, 2014), Alepo (Síria, 2015), Azerbeijão e Arménia em 2020, Cazaquistão em 2022,…
- Imperdoável, senhores comunistas, imperdoável!
- Bem como o peganhento povo bielorusso…
- Mais um cinismo ortodoxo de Putin e seus fantoches…
- Mitologia religiosa, a guerra final entre as forças do Bem e as do Mal ou, estou em crer, entre as democracias e as autocracias.