Nação Valente de Resignados Velhos

Agora que caminhamos para a reforma aos 67 anos, pergunta-se: o que vamos fazer a tanta velhice?

E deixemo-nos de clichês, que frequentemente papagueamos sem primeiro os analisar: nem só os trapos são velhos! Nós humanos somos velhos, sejamos trapos, farrapos ou cachemira selecionada. Nós, gente transeúnte desta vida sem sentido, envelhecemos. Ponto! E começamos a sentir a nossa velhice aí na zona dos 40 a 50, altura em que já somos olhados a catalogados como velhos, velhotes, velhadas ou, com um bocado de sorte, apenas cotas. E aos 40 ou 50 anos estamos quase na meia-idade, assumindo que a nossa esperança de vida rondará os 90. E na meia-idade, já somos velhos?

O aumento da idade da reforma nada tem a ver com o aumento da esperança de vida dos cidadãos Portugueses. O atraso sucessivo até aos quase 67 anos de vida da nossa reforma destina-se a encobrir a nossa incompetência, inaptência ou impotência de resolvermos os profundos problemas do nosso Estado Social[1]. Isso mesmo. Aquilo de que os Europeus tanto se orgulham perante o resto do mundo, um estado focado no bem estar social das massas com suporte na solidariedade social, é o sintoma mais óbvio da nossa extrema dificuldade em gerir contas públicas. E eficácias públicas. E eficiências públicas. E mais valias públicas. E solidariedade de massas…

Erguemos valentemente o nosso orgulho nacional, que não possuímos, para nos afirmarmos modernos nas resoluções de problemas nacionais de fundo. Copiamos medidas de resolução de outras nações competentes na gestão dos seus estados sociais e acreditamos que todos, a Nação que já foi valente, realmente acreditamos nessa balela “se Homem vive até aos 90, Homem terá que ser contributivo até aos 67”. E vivemos bem com essa nossa fantasia. Fantasia essa que nos faz esquecer ou nem sequer lembrar os profundos problemas estruturais de uma nação que tem vivido de aparências. E de outros[2].

Não, não embalemos nas balelas de vendedores de banha da cobra. Portugal está falido há décadas. Não somos eficientes[3]. Não somos produtivos[4]. Já nem sequer produzimos crianças que cheguem para evitar, ou atenuar que fosse, a velhice de uma Nação que já foi valente mas já não é. Estamos velhos mas queremos parecer novos. Estamos falidos mas queremos parecer abastados. Estamos, como há muito já estamos, a ludibriar-nos a nós próprios com a esperança que ninguém repare nisso. E assim vamos vivendo cada dia atrás do outro. Resignadamente. Com a resignação que velho é normalmente forçado a adotar. E vamos vivendo no meio dos nossos silêncios perante cada velho que morre abandonado. Perante cada velho que é atirado para os asilos que mais não são que corredores da morte. Por cada velho com semblante carregado sobre um rosto enrugado por uma vida sem sentido que o faz acabar simplesmente esperando a sua vez.

Esta é a sinfonia de uma Nação que resignadamente envelhece acreditando que ainda é valente…

  1. Ver versão Brasileira Estado de bem-estar social.
  2. O recurso a empréstimos avultados para nos salvarmos do afundanço não é coisa de agora…
  3. Uma enorme quantidade de Portugueses nem sequer sabe o que é a eficiência.
  4. Uma esmagadora maioria de Portugueses confunde produção com produtividade.

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