Senhor presidente Marcelo Rebelo de Sousa, seja bem-vindo de volta ao lugar que aprazivelmente ocupa desde 2016 e que já lhe estava predestinado, mesmo antes destas eleições presidenciais acontecerem num cinzento dia de uma das mais acinzentadas fases da atualidade. Os Tugas optaram, e bem, pela continuidade, que neste caso significa estabilidade. Decisão sensata de um povo que continua ainda muito desapontado com tudo e com todos, postura marcante dos habitantes deste peninsular retângulo à beira-mar plantado…
Diz o povo que presidente que se recandidata é presidente reeleito. Bom, podemos dizer que é uma regra de cariz empírico dotada das suas exceções, que o diga Donald Trump… Quando escrevi pela primeira vez sobre o presidente Marcelo Rebelo de Sousa[1] já me parecia que o seu perfil político seria o mais indicado num painel de candidatos dotados de pouca substância pessoal e política[2]. Marcelo está agora mais velho (72 anos) e claramente mais sapiente por ter já experienciado cinco anos de presidência em período difícil da vida portuguesa, principalmente os últimos nove meses. Eu sou dos que acreditam nas vantagens da experiência e por isso mesmo Marcelo tornou-se facilmente o meu favorito neste lote de sete candidatos. Acredito piamente na necessidade da reflexão quando os tempos se tornam duros, tempos esses em que por isso acredito nas claras vantagens do parar, escutar e olhar antes de prosseguir. E o sinal mais claro da experiência e consequente sensatez de Marcelo foi a sua campanha eleitoral. A sua espera pelos resultados finais no dia das eleições. As 20 ou 30 voltas à Faculdade de Direito em Lisboa, onde aprendeu e ensinou e onde agora iria discursar, aguardando serenamente a sua vez. A vez de mostrar o quanto ele, Marcelo Rebelo de Sousa, foi a escolha acertada nestas eleições. E o seu discurso foi tão sensato quanto o seu comportamento. Este homem tem uma tarefa dura pela frente e não o escondeu em momento algum. Este homem deixou transparecer que assumiu este novo mandato com sentido de missão, mesmo sabendo que não sabe como resolver os mais que muitos problemas de uma Nação ainda muito perdida entre o vazio das músicas “pimba”, incluindo os ritmos da nova tendência “cobóis à portuguesa”[3], a banalidade das telenovelas e a leviandade dos “reality shows”. Este presidente mostrou-se a este país como ser humano que efetivamente é, muito consciente das suas fragilidades mas também muito empenhado em servir…
Quanto ao resto deste evento eleitoral, tudo muito pouco relevante a não ser o volume da abstenção[4]. O povo português continua muito pouco envolvido na diária labuta política, nacional e internacional. Pensar dói. Refletir dói. Tomar decisões dói. Quando solicitados a opinar, os Tugas em geral têm como primeiro comentário político um qualquer impropério dirigido a um ou mais políticos, quando não a todos. Até não seria mau de todo não fosse o facto de que a grande maioria dos Tugas não passa disso, praticar a técnica do “deita abaixo”. Os Tugas têm três grandes defeitos: adorar fado, dizer mal de todos os outros e idolatrarem-se a si mesmos. Não admira por isso que o nível de abstenção nos atos eleitorais nacionais ronde habitualmente os 50 a 60%. Eu respeito a abstenção como postura política efetiva. Não respeito de todo a abstenção dos que se limitam a dizer, sem pensar, que “os políticos são uns mamões e não estou para os sustentar”. Esta atitude generalizada do Tuga, convencido que é o único a esforçar-se e que todos os outros vivem à custa do seu esforço, já chateia. Já é nauseabunda e por isso deveria ter um único destino: o caixote do lixo e a incineração. Os Tugas são fortes nas cantigas de escárnio e maldizer, sobre tons cinzentos de fado, e muito fracos a tomar a iniciativa de assumir efetivamente responsabilidades. Preferem então as manifestações de extrema leveza do ser, cheias de cores berrantes e sons estridentes, recheadas de dizeres brutais[5] e pensamentos ocos. Não há pachorra para tanto folclore de fraco gosto…
Senhor presidente Marcelo Rebelo de Sousa, seja bem-vindo de volta…
- Foi na versão em Inglês deste blog, que já não está disponível.
- Ver aqui resultados de 2016.
- E esta hem?!? Não sei se é uma tentativa de cópia do verdadeiro “country” norte-americano ou uma criação com influências da música sertaneja importada do Brasil mas por favor, tenham dó, façamos um esforço para manter a identidade.
- Ver resultados aqui.
- Já falei do novo imbecil sentido atribuído pela juventude atual a esta palavra?