Qualquer ser vivo envelhece mas nenhum como o Homem sente o peso do envelhecimento! Tudo porque nós, animal humano, temos a inevitável constante percepção de que estamos morrendo lenta e (frequentemente) dolorosamente sem que possamos fazer algo contra isso, por muito que desejassemos contrariar esta terrível oxidação das células que nos conduz ao estado do vegetativismo, se não morrermos antes disso…
A principal vantagem da velhice é a sensatez. E é pela sensatez, que a vida nos vai oferecendo, que vamos melhorando a nossa capacidade de gerir eficientemente a energia que nos vai faltando. Os jovens são tolos! Tão tolos quanto a juventude os força a ser. Mas é inegável a saudade que nós velhos, produtos em irreversível processo de oxidação, sentimos. Pensar não é o nosso ponto mais forte quando somos jovens. Toda a energia que possuímos impele-nos para comportamentos absolutamente imbecis mas, ó contrasenso dos contrasensos, é exatamente o que na hora de envelhecer nos vai trazer a percepção de que temos de gerir energias. Isso, quando a enegria é demais nunca ou raramente nos sentimos impelidos a geri-la. É só quando ela escasseia que nos vemos perante a inegável necessidade de gerir os então parcos recursos energéticos de que vamos sendo dotados.
O nosso corpo oxida! E com a oxidação envelhecemos. E com o envelhecimento vamos perdendo a vontade de disparatar. De rir… De sair por aí fora sem tempo nem destino. E vamos então criando uma incontrolável necessidade de controlar inteligentemente o que já escasseia, a energia. A velocidade diminui. A reação vem com atraso. As articulações doem. A respiração é ruidosa. O tempo passa a ser algo sobremaneira importante. De repente passamos a entender tudo como que avançando demasiado rapidamente. Perdemos tolerância para o repentino, ganhamos tolerância para o refletível. Já não queremos subir 300 degraus repentinamente, preferimos subir apenas 10 saboreando um a um cada um dos poucos que já somos capazes de subir.
Gerir energia não é consumir menos energia! É saber exatamente que energia consumir em cada momento da nossa existência de modo que a nossa existência seja tanto quanto possível longa e aprazível. Haverá momentos de alto consumo, momentos de muito baixo consumo. Momentos de consumo quase nulo! Momentos de produção de excesso, momentos de rentabilização do excesso. Momentos de stand-by, momentos de contemplação apenas porque a contemplação passa ser algo com valor inestimável. Gerir energia é saber com máxima exatidão o que é ganhar tempo e o que é perder tempo. Sim, o tempo passa a ter uma importância nunca antes percebida, nos tempos em que a energia é tanta que nos impele a ser e estar sem ter primeiro pensado o que queremos ser e onde queremos estar.
Velhos não são apenas os trapos! Velhos são todos os seres que pura e simplesmente envelhecem. E o envelhecimento é perda mas também é ganho. Porém, aquilo que se perde e definitivamente não se volta a ter é a energia. A energia química. A energia mecânica. A energia elétrica e a magnética. A energia de amar. A energia de perdoar. A energia de querer mudar. A energia de querer participar em tanta coisa que já se viu, já se ouviu, já se sentiu. Envelhecer é perder energia mas ao mesmo tempo é o ganhar a sensatez que nos permite fazer, sabendo fazer, a gestão do que já não dá para loucuras de tempos loucos mas que tem que dar para continuarmos a ser e saber ser um Alguém com ‘a’ maiúsculo. Velhos são os trapos, os homens e as mulheres. Velhos são os seres que não conseguem impedir o envelhecimento. E o envelhecimento é perda mas também é ganho. E se o ganho superar a perda, vale a pena continuar. Caso contrário, a vida fica com muito menos sentido do que ela já tem…
A sensatez não é um exclusivo de quem é velho. Gente jovem pode também ser sensata mas a sensatez em idades onde ainda não existe a experiência é uma sensatez verde, não amadurecida. A experiência vale pela capacidade de gerir a vida com a sapiência de quem já viu, já experimentou, já acertou ou errou uma ou mais vezes num desafio com o mesmo ou similares contornos. A sensatez efetiva é a sensatez suportada na experiência e por isso diretamente proporcional ao que já se viu, ouviu, sentiu, perdeu ou venceu, uma ou mais vezes. Mas de nada serve a experiência sem a capacidade de se aprender com ela. Acresce portanto que nem todos os velhos são sensatos porque simplesmente não tiveram ou não têm a capacidade de extrair da experiência o que os tornaria sensatos. E sem sensatez não se é capaz de levar a cabo uma gestão efetiva da energia. E sem energia perecemos…
Velhos não são apenas os trapos. O Homem também pode ser velho mas o que nos torna distintos dos trapos é a capacidade de saber envelhecer. E saber envelhecer passa por uma efetiva capacidade de gerir energia. E a gestão de energia passa pela capacidade de saber ser, estar, dizer sim ou não assertivamente. Parar quando temos que parar. Avançar quando urge avançar. Hesitar, nunca…