Portugal deu mais um passo em defesa do perfil que já desenhei há muito sobre o nosso povo: de vez em quando decidimos bem! Pena é que seja só de vez em quando…
Foi em Junho de 2018 que expressei o meu manifesto (veja aqui) a propósito da liberdade de morrermos quando verificamos que outra solução não existe. Sempre me fez confusão poder decidir sobre a vida dos outros nas guerras que por aí proliferam, onde quem morre nem sequer está a pedir para morrer, e não permitir que quem deseja morrer por causas óbvias o não possa fazer em paz e sossego. Claro que todos podemos por fim à nossa vida. Chama-se a isso suicídio e é fortemente penalizado pela sociedade. “Ai coitado, não aguentou o peso da vida” e assim morre o assunto. Se calhar até conhecíamos o coitado. Se calhar até sabíamos o quanto ele estava próximo de tomar aquela atitude. Mas enfim, era um pobre coitado…
Pobre coitado é como se deve sentir quem está diariamente num sofrimento constante, irritantemente constante, sem fim à vista. Pobre coitado é como se deve sentir quem está diariamente observando todos os outros sem dores crónicas nem grandes limitações físicas enquanto ele/ela se limitam a estar agarrados a um corpo que é a causa da sua infelicidade, da sua dor sem fim e da sua total incapacidade física. “Ah, mas ainda tem capacidade mental” defenderão os moralistas da nossa sociedade. Pois, o nosso problema são os moralistas. Aqueles que são compreensivos com o violador das filhas dos outros mas que o estropiarão de imediato se o caso for com as suas próprias filhas. Como diz o povo na sua sabedoria milenar “pimenta no cu dos outros não arde”.
Demos um passo para contribuir para a paz de quem se limita a viver para sofrer. Demos um passo em direção do bom senso tal como o fizemos séculos atrás ao penalizar a escravidão. Tal como mais cedo ou mais tarde (espero que mais cedo) daremos ao penalizar fortemente as touradas. E assim vamo-nos livrando desta suspeita que tenho há muito que Português é discretamente sádico. É que para muitos Portugueses ser sádico não é mau desde que se o seja discretamente.
Finalmente os números:
A despenalização da eutanásia foi aprovada pelos deputados da Assembleia da República. Todos os projetos apresentados conseguiram aprovação.
O projeto de lei do BE obteve 124 votos a favor, 85 votos contra e 14 abstenções.
O projeto de lei do PAN obteve 121 votos a favor, 86 votos contra e 16 abstenções.
O projeto de lei do PS obteve 127 votos a favor, 86 votos contra e 10 abstenções.
O projeto de lei do PEV obteve 114 votos a favor, 86 votos contra e 23 abstenções.
O projeto de lei do IL obteve 114 votos a favor, 85 votos contra e 24 abstenções.
Oooops… Um cenário um tanto ou quanto avermelhado!