Automaticamente fui levado a pensar nesta problemática nacional logo após a minha dissertação sobre os fracos hábitos de leitura dos portugueses. Pergunta-se, gostam os filhos de Viriato de estudar? Fazem-no por prazer ou por obrigação? São os doutores e engenheiros desta nação o resultado de dezassete anos de plena felicidade ou do desempenho do papel de resignadas vítimas de opressão parental?
Comecemos pela identificação do problema: Portugal tinha, em 2016, a quarta maior taxa de abandono escolar precoce na União Europeia. E em 2006 ocupava a primeira posição. Diz ainda a publicação donde extraí estes dados:
O abandono escolar precoce é um obstáculo ao crescimento económico e ao emprego. Prejudica a produtividade e a competitividade e faz aumentar a pobreza e a exclusão social.
Analisando ligeiramente estes dados podemos com ligeireza dizer, primeiro, quem abandona a escola não gosta de estudar, segundo, para os jovens portugueses é tão penoso estudar como ler e, terceiro, temos de uma vez por todas de aceitar, mas acima de tudo equacionar e resolver, que não é por acaso que estamos na cauda da União Europeia no que diz respeito ao nível de qualidade de vida da população. E a qualidade de vida de uma população é diretamente proporcional à sua produtividade e competitividade. E que de uma vez por todas, as escolas portuguesas têm que começar a ensinar o que é verdadeiramente importante para a nossa juventude, começando pelos conceitos de produtividade e competitividade e pelo seu impacto na necessária conversão do já saturante estado de pedinte e pedinchão actual num futuro estado de povo feliz e contente…
Prazeres inatos…
Claro que sendo nós um povo fadista, esta tarefa de nos tornarmos competitivos apresenta-se-nos muito mais árdua do que ir daqui até à India, não numa casca de noz como as comandadas por Vasco da Gama mas numa prancha de bodyboard. Sim, porque o jovem de hoje é bué de bom a surfar e a bordibórdar. Ya, põe bué nessa cena! Mas também é bué de excelente em cantadas quando tem um date ou, no caso delas, em exercícios de pavoneamento sexual. É criador de bué de styles em cenas assim tipo selfies, é bueda cool numa tipo de atirar uns shots pela garganta abaixo, é bué de rápido, mais que a própria sombra, a teclar o seu smartphone última-geração de olhos fechados, yaright, assim tipo a dormir, bueda nice a enrolar a sua ganza[1] com pose de movie star enquanto lança aquele olhar ‘à matador’ à boazona da escola, mas… estudar?!? Vai no Batalha[2]! O jovem português nesta cena do estudar e tirar boas notas é uma ganda fail…[3]
“Mas, ó coisinha, todos os anos há paletes de putos a concluirem o superior, pá!”, observará o leitor arguto. Pois, é verdade. Mas… Primeiro, a escolaridade é obrigatória. Segundo, é melhor estar a estudar que meter mãos às batatas e às cebolas. Terceiro, fica difícil ir trabalhar para o país dos nossos sonhos sem formação escolar superior e, claro, nenhum puto de hoje quer ser igual aos seus avós que fugiram “a salto” de Portugal com a sua valise en carton[4]. Finalmente, Portugal não quer mais ficar na fotografia de grupo como sendo um dos países Europeus com menor percentagem de pessoas dotadas do ensino superior[5]. Por isso, industrializou-se o acesso ao ensino superior e a conclusão do mesmo no menor número de anos. Resultado de tanto puto a sair das Universidades? Continuamos a pedir dinheiro à Europa e já nem sequer temos vergonha na cara…
E o que mudará este cenário de pedinchisse num futuro breve? A ditadura da disciplina, bem ao estilo norte da Europa. Realizável? Naaaa… Momento de delírio meu!
- Canábis é o que está a dar…
- Expressão tão querida de uma geração de portuenses que está em extinção. Denota total descrença no que se está a ouvir. Como que se dissessemos “olha, essa tua historinha soa a filme de ficção como os que passam no (cinema) Batalha”. O cinema Batalha era na Praça da Batalha, entre as freguesias da Sé e de Santo Ildefonso.
- Convém realçar aqui que o gostar de ir à escola é uma coisa, o gostar de estudar é outra. E, já o dizem os nossos queridos brasileiros, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
- Referência a Linda de Suza.
- No ano de 2019, Portugal apresentava na UE um valor de 26.1% da população, entre os 25 e os 64 anos, com ensino superior (média da UE era 31.4%). Mas em 1992 o valor era de 10.5%.