Frankfurt, Dezembro 19 — Esta não é a Alemanha que conheci em 1990, minha primeira vez nesse território tão associado ainda a expressões como “raça ariana”, holocausto e outros sempre suportados na imortal máxima “Deutschland über alles”[1].
Não, os alemães continuam arrogantemente superiores. Todo o seu aparente altruísmo é só isso mesmo, aparente. São ainda senhores de um olhar de cima para baixo como sempre foram só que agora estão afogados numa aparente anti-xenofobia que é apenas só isso mesmo, aparente. Ao tentarem fazer o mundo esquecer todos os alicerces filosóficos da segunda grande guerra, que eles geraram, deixando entrar no seu território qualquer um, espetaram-se de frente contra uma parede por eles próprios erguida. É que convenhamos, alemães, só mesmo os alemães. Bom, talvez também os austríacos, os tais alemães de segunda escolha.

Frankfurt, Alemanha.
Então e agora? Aquela disciplina germânica atroz, está onde? Não está! Aquela de 1990, que eu conheci, foi-se. Já era. A pontualidade. O rigor no cumprimento das regras. A intolerância ao desmazelo. O respeito matemático pelos horários. A educação nas relações interpessoais. A eficácia. A eficiência (coisa que os tugas não sabem o que é) sobre uma eficácia (que os tugas têm como também como algo que não entendem) sem precedentes porque foram eles os pioneiros na defesa incondicional da eficácia associada à eficiência. Sim, os germânicos estão na linha da frente na produtividade (que tuga confunde com produção), no rendimento (com o qual tuga pouco se preocupa) e na partilha com os seus pares dos frutos que resultam dos mesmos.
Tudo tão ainda muito positivo, sim, mas não é mais o tanto muito que outrora os demarcava de outros povos. Diria que os germânicos na sua ânsia de provar que aquelas bestas de alto rendimento, eles, sem sentido de humor nenhum, eles, e de menor sensibilidade ainda, também eles, são afinal humanos e muito abertos aos dramas dos outros, os mais fracos, desprezaram a força do ADN dos povos que os torna muito pouco mutáveis. E ao tentarem provar que são humanos abriram de par em par as portas aos frágeis, aos desprotegidos, aos coitados de outras partes do mundo onde miséria é um estilo de vida comum. Ou seja, deixaram-se conspurcar. Infetar. Serem invadidos por outros seres de menor calibre, os quais acreditavam, eles, que seriam trabalháveis.
Mas povos dotados de milenar vivência em valores sociais menores, não são trabalháveis. Não são maleáveis. Sejam turcos. Ou marroquinos. Ou islâmicos. Seja quem for de pele castanha e cabelos negros onde se incluem os tais da Europa do sul ou da Europa periférica. Sim, os Germânicos devem estar loucos porque deixaram-se dominar por sentimentos emprestados. E tramaram-se. Hoje a voluptuosa Germânia começa a ser um lugar sujo, desorganizado, algo ineficaz e perdido em valores sociais bem mais misturados que as minhas mistelas gastronómicas. A Germânia de hoje não é o exemplo do rigor. Da educação no trato interpessoal. Na defesa incondicional do que carateriza as ditas raças superiores. Porque raça superior só o é se for pura. Não miscigenada.
Talvez um dia tenhamos o Germexit[2]. E nesse dia os verdadeiros germânicos dirão não à continuação da conspurcação do seu ADN. E fecharão fronteiras. E exterminarão os miscigenados. E nós sabemos como são os Alemães a exterminar. E voltarão a serem puros. Nobres. Dominadores. Únicos. E voltarão a ser “Deutschland über alles”. Ou talvez não! Talvez os germânicos estão loucos e entraram em auto-extinção. E vão continuar a achar muito fofinhos esses pobres desgraçados que fogem das suas terras rumo á terra prometida, a poderosa Germânia. E então um dia a Europa será a Síria. A Etiópia. O Iraque. A República Central Africana…
Moral da história: fechem as portas aos refugiados…