Lembrei-me deste tema ao ver o programa “Prós e Contras”[1] de 6 de Julho de 2020, “Saúde Mental… A Epidemia Oculta”. Não é minha intenção falar de saúde mental, pela simples razão de que não tenho uma visão científica da mesma. Também não quero criticar o programa em si porque até acho que é um muito bom programa de tertúlia, onde normalmente participam bons profissionais a dissertar sobre temas diversos. Este título nasceu da conjunção de pensamentos cruzados sobre a natureza maldosa do ser humano, a sua evolução epidémica e a necessidade consequente de ir dourando a pílula…
A Terra, este nosso querido planeta, está sobrelotado. Há gente a mais nesta bola magnífica, nascida sabe-se lá como, que ainda existe, sabe-se lá até quando, apesar das enormes atrocidades de que é vítima. Realmente há bilhões de gente a mais neste nosso mundo. E quantos mais somos mais difícil é saciar todas estas bocas que, como sabemos, gostam imenso de comer. E de beber… A Terra, este nosso querido planeta, é um imenso território cobiçado por muitos seres humanos para criação de riqueza e bem-estar próprios. Alguém um dia disse “Não podes ficar rico sem roubar as pessoas. Não existe neste jogo um ganha-ganha. Ganha-perde é uma lei da natureza. Assim, quanto mais rico ficas mais aumentas a pobreza de outros.”. É a nossa ganância natural que fez deste planeta um teatro onde muitos estão condenados logo à nascença a interpretar o papel de pobre. Outros, a minoria, o papel de ricos. E outros são meros figurantes. E é desta forma que a população mundial tem aumentado ao longos dos milénios. Uns quantos ricos a governar multidões de pobres e figurantes. Uma esmagadora maioria de pobres e figurantes a serem manipulados por uns quantos ricos.
O modelo capitalista de gestão económica e social é o mais apreciado por toda a gente em todo o mundo. Criar riqueza própria e multiplicá-la. A isto se resume o Capitalismo. Coisa simples. Elementar. Quanto mais riqueza, mais poder. Quanto mais poder, mais riqueza. O Capitalismo assenta numa verdade absoluta: não nascemos todos iguais e os mais dotados compram e vendem tudo. Na selva também é assim, nenhum animal nasce igual ao outro e prevalecem os mais fortes. Na selva que são as nossas sociedades há lugar para todos desde que todos aceitem o lugar que lhes foi reservado. E os lugares são distribuídos da forma mais conveniente a quem comprou os lugares para os vender lucrativamente a quem precisa deles e não consegue comprá-los. O modelo capitalista é fabuloso. De fábula. E uma fábula é uma historinha em que os personagens são animais que apresentam características humanas…

A raça humana é uma terrível epidemia para este planeta. Sim, há gente com boas intenções. Sim, já não somos umas bestas como o homem das cavernas. Sim, há gente que se esforça por humanizar a vida. Mas o pior de tudo é que humanizar já não é coisa boa. Humanizar hoje em dia implica em grande medida tornar as pessoas gananciosas, egocentristas, egoístas, vaidosas e poderosas. E depois, uns vencem pelo poder do dinheiro. Outros pelo poder das propriedades. Outros pelo poder físico. Outros pelo poder mental. Outros, sabe-se lá pelo quê. O que vejo agora é que a evolução da humanidade aconteceu com base na necessidade mais premente do bicho humano: dominação! E no modelo capitalista a dominação consegue-se através do poder económico. E o poder económico consegue-se exercendo poder sobre os outros. E quando o poder das palavras não é suficiente, usa-se o poder das armas. E com armas podemos ameaçar. E com a ameaça criamos medo. E quando temos medo somos subservientes…
Não há retorno. Reformular seria uma possibilidade mas mesmo assim levaríamos décadas a limpar a sujeira que fizemos. E então se pensarmos que o poder do planeta está em grande parte nas mãos de líderes como Jair Bolsonaro, Donald Trump, Nicolás Maduro, Kim Jong-Un, Vladimir Putin, Ali Khamenei, Xi Jinping, Abdul Fatah Khalil Al-Sisi, Bashar Al-Assad e outros de menor monta, é melhor acreditarmos que existem todas as condições para isto ainda ir de mal a pior. É que a frase “a esperança é a última a morrer” é uma treta tão grande como “enquanto há vida há esperança” para tanta gente por esse mundo fora que nem tem tempo para saber o que é a esperança, tão grande é o seu foco na frase “vou morrer se não arranjar nada para comer“. Não há retorno, não creio que haverá. Mas o lado positivo é que, como sempre acontece, o ser humano sofrerá as alterações evolutivas em conformidade com este estado de coisas…
Aceitemos que o novo normal será a convivência em modo de insanidade mental, uma realidade há muito oculta mas agora revelada por este estado pandémico…