Epidémica Insanidade Mental -p3

A pandemia continua a fazer estragos e, como sempre, quem se desequilibra mentalmente sempre se convence que os outros é que habitam o lado escuro da lua! Sempre foi assim, não sei porquê mas para isso existem os psicólogos. Como não-psicólogo que sou, sento-me confortavelmente no meu sofá de leigo e divirto-me a divagar sobre os efeitos do confinamento forçado a que o povo Lusitano tem sido sujeito. E uma das evidências na minha tese de que o povo está a ficar cada vez mais mentalmente insano é o abaixo-assinado (petição) que corre por aí exigindo o afastamento (despedimento) de um juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal…

Imaginemos um inócuo adolescente, estudante numa qualquer escola deste nosso provinciano país, que chumbou num exame de uma qualquer disciplina, parte integrante de um qualquer inadequado programa curricular nacional do ensino secundário, leccionada por um qualquer clássico professor, daqueles que assume com rigor o cumprimento da sua profissão. Imaginemos que a mãe galinha desse inócuo adolescente ficou furibunda porque o seu precious chumbou e com isso ficou impossibilitado de transitar de ano. Revoltada, usa as redes sociais para aliciar outros pais e mães que, tão revoltados como essa revoltada mãe mas por outros motivos que na maioria das vezes não fazem sentido nenhum, assinam um documento solicitando a exoneração desse clássico professor que assume com rigor o cumprimento da sua função. Que se passará? Irá o Conselho Diretivo despedir esse docente que, no seu próprio e avalizado parecer, considerou o inócuo adolescente inapto? Tudo é possível, num país como o nosso mas, seja qual for a decisão do Conselho Diretivo, o ato perpretado por essa mãe em querer aliciar amigos e amigos dos amigos dos seus amigos das redes sociais, é imbecil, pois existe um Sistema, mas acima de tudo é a evidência da natureza execrável do ser humano. Ou será isto ainda um resquício de terceiro-mundismo que nos caraterizou até há bem pouco tempo? Bom, lembro-me ainda bastante bem do que uma orgulhosa e arrogante mãe galinha tentou comigo quando chumbei a sua mimada filha na minha disciplina, em tempos idos que lecionei em Angola…

O juiz Ivo Rosa tem já um “cadastro” popular que o torna, no contexto da Justiça Portuguesa, um decisor mal-amado pelos muitos portugueses (e são realmente muitos) que afinal não são apenas treinadores de bancada. Pelos vistos são também juízes de sofá! José Sócrates tornou-se, na mente desses portugas e após a sua ação como primeiro-ministro de um governo que nos entregou à Troika[1], o culpado de todos os problemas que nos assolam desde 1143, ano da constituição do Reino de Portugal. Para desgraça geral, as Redes Sociais tornaram-se a ferramenta de agregação de vontades consonantes de um povo que passou de maioritariamente analfabeto a maioritariamente especialista (em tudo e mais alguma coisa) em menos de um piscar de olhos. Têm os noticiários dos nossos media reportado que este famoso megaprocesso Operação Marquês engloba 28 arguidos[2], muitos milhões de euros a esvoaçar entre mãos e bolsos diversos, centenas de buscas domiciliárias, dezenas de dias de duração de escutas telefónicas e interrogatórios a mais de 200 testemunhas, 13.5 milhões de ficheiros informáticos, inspeção de mais de 500 contas bancárias, um despacho final de investigação pelo Ministério Público com mais de 4000 páginas e dezenas de páginas “Errata”, já com 7 anos de duração[3] e, finalmente, uma decisão instrutória de seis mil setecentas e vinte e oito páginas[4], número 122/13.8TELSB, do Tribunal Central de Instrução Criminal (Lisboa)[5], da qual o juiz Ivo Rosa leu um resumo tão somente em apenas 4 ininterruptas horas.

A Justiça É Cega...

Num país onde a maioria da população não consegue ler as duas simples páginas da bula de um medicamento tão simples como o “Ben-U-Ron”, tem imensa dificuldade em ler um edital qualquer na porta da sua própria Junta de Freguesia ou, numa simples redação escolar, dá 5 erros ortográficos em cada 3 palavras que escreve, é preocupante, para não dizer outra coisa, levar-se menos de uma meia-dúzia de horas a elaborar uma petição e reunir mais de 100 mil assinaturas com o intuito de despedir um alto magistrado da Nação. Boa, 100 mil juízes acabadinhos de sair debaixo dos calhaus da nossa terra. Sublime! Estupendo! Estonteante! Brutal![6] O Luso povo desta Lusa nação sem atitude nacionalista alguma, desta Pátria em que patriota é aquele que torce pelo Sport Lisboa e Benfica, deste território periférico de uma Europa também ela algo perdida numa multi-pandemia, sanitária, económica, social e política, este povo está de facto… Mentalmente insano! É que já não bastava levar a cabo manifestações públicas integrando milhares de iluminados negando a existência de um vírus que tem exterminado milhões de animais humanos em todo o mundo. Tinham que por a cereja no topo do bolo exigindo o despedimento de alguém só porque esse alguém não decidiu em conformidade com o que o povo almejava. Mas o que é que é isto? O regresso aos processos 2-em-1 (acusação + linchamento) em praça pública? Justiça popular? Uma reprise de uma qualquer série televisiva tipo “O Justiceiro”? Sim, o que é que é isto? Será que o povo leu as tais (quase) 7000 páginas? Leu quantas? Cem? Cinco? Ouviu as escutas todas? Ouviu quantas? Cem? Cinco? Conhece as vidas, aventuras e desventuras dos tais 28 arguidos? Conhece quantas? Cem? Cinco? Ou será que o povo Lusitano agora virou Deus e é dotado de omnipotência, omnisciência e omnipresença?

O povo da Lusa terra deve estar louco…

  1. Foi em Abril de 2011 que foi solicitada por José Sócrates, a conselho do seu Ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, o “regresso da Troika”.
  2. Sendo 19 pessoas singulares e 9 pessoas coletivas (empresas).
  3. A investigação iniciou-se em 2013.
  4. Arredondado grosseiramente para as 7000 páginas.
  5. Pode lê-la aqui.
  6. Aqui a palavra “brutal” significa mesmo brutal…

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