Ao ver as notícias e os programas de opinião sujeitos ao tema COVID-19, concluo que feliz, feliz, não faz sentido ser. Os nossos governantes não sabem bem o que fazer e os governados nem sequer conseguem ser governados de jeito. Esta obscena vontade de inventar para que não pensem que não sabemos o que estamos a fazer, poderia ser muito portuguesa, mas não é. É humana…
As pessoas não estão bem! Ou seja, a sanidade mental dos portugueses está em risco. E eu não me sinto preocupado com isso. Preocupa-me é esta promíscua convivência com a ignorância enquanto sonhamos ser parte da solução quando, no mundo real, somos parte do problema. Afinal o que pensavamos que era não era mesmo. O que pensavamos que seria não foi mesmo. E eis que somos surpreendidos com o pedido de clemência da ministra da saúde, dos nossos médicos, dos enfermeiros e dos diretores de todos os hospitais do país. Este fantástico jogo de xadrez entre a economia e a humanidade não teve igual nos últimos 60 anos. Se calhar não teve igual nos últimos, sei lá, mais que 60 anos mas isso a mim não me interessa. O que me tem feito sobreviver desde que de repente poderia passar a ser um menino da rua para passar a ser um menino do colégio é algo que talvez não consiga entender antes do meu ‘eu’ passar a cinzas ou pó. E o que me mantém um sobrevivente num mundo de tanta conflitualidade entre o capitalismo, que nós criámos e idolatramos, e a humanidade, que nós estamos destruindo, é a fabulosa capacidade de me manter calculista que nem régua de cálculo, pragmático até às lágrimas de alguém que não eu e desmesuradamente um defensor da inexistência de sentido desta vida que, apesar da sua falta de sentido, deve ser vivida com dignidade…
Abrem escolas, fecham escolas, abrem aeroportos, fecham aeroportos, abrem fronteiras fecham fronteiras, com tele-trabalho ou sem tele-trabalho, as dialéticas são as habituais de quem realmente não pode ser mais do que aquilo que foi ensinado a ser. O povo, povo mesmo, é aquilo que o ensinam a ser. O capitalismo não foi ensinado a nenhum dos portugueses de hoje porque nem sequer houve tempo para isso, por demais ocupados estavam a teclar nas últimas gerações de telemóveis que são muito mais que coisinhas para telefonar. Mas acima de tudo nem sequer houve necessidade para isso. Eu sou da geração da natural vontade de tentar entender o Capitalismo, o Socialismo, o Comunismo e o Fascismo. Mas isso faz de mim um dinossauro. E a malta de hoje vê os dinossauros como isso apenas, dinossauros. A malta de hoje não está para aí virada, para os “ISMOS” daquilo que para eles é um antigamente. Não mais que peças de museu que podem, ou não, ser olhadas com respeito mas que não passam de peças de museu. Apenas isso! Abrem escolas, fecham escolas, abrem aeroportos, fecham aeroportos, abrem fronteiras, fecham fronteiras, com tele-trabalho ou sem tele-trabalho, será que algum dia ultrapassaremos esta fase dialética antes que morram todos os velhotes do nosso bairro?
Encontrei a paz de quem diz, como muitos velhotes do nosso país, “vivi já o que é aceitável ter vivido”. E nem sequer estou interessado em discutir o que é ser velhote ou não porque acima de tudo tenho uma inadiável vontade de me sentir velhote. De me solidariezar com os que andam por aí a serem infectados porque, afinal, não têm mais nada para fazer. Porque foram abandonados por quem deram a vida em tempos idos que já lá vão e por terem passado a história. Porque foram esquecidos. Porque foram vítimas desta hipocrisia que passou a ser um ISMO dos tempos que correm, o hipocrisismo. O faz-de-contismo. O euismo acima de tudo e de todos. Encontrei a paz de quem está cansado, muito cansado, de décadas de esperança em ver humanos a tentarem ser humanos. De quem não tem mais paciência para “telenovelas” e “reality shows” interpretados por gentinha que não faz mais que fazer de conta para assim esconder tudo aquilo de que não é capaz. E já só espero que isto fique pior do que já está a não ser que as pessoas, que já deixaram de ser pessoas, tenham a não expectável capacidade de entender, de uma vez por todas, que este mundo que já cá estava antes das pessoas chegarem, irá continuar a estar como antes das pessoas chegarem…
Não poderemos esperar grande coisa duma sociedade que se habituou a depender dos outros. As manifestações de barbaridade neste país que se julgava de brando costumes são mais do que muitas. Não me soam nada bem as clemências sem eco de pessoas que ainda acham que lutar pela vida dos outros faz sentido, que temos que reagir à letargia adquirida por hábito à tragédia. Fará sentido tocar sinos, disparar sirenes, gritar até que a voz enrouqueça, chorar até que as lágrimas sequem? Não seria melhor unirmo-nos aos imbecis, e são muitos, que pensam “deixemos correr, alguns morrerão para que outros sejam salvos”? Não! Não estou nessa. Este Portugal que é o meu Portugal desde que nasci tem que mudar. Tem que deixar de esperar que Dom Sebastião apareça numa manhã de nevoeiro. Tem que se libertar duma História que foi o que foi mas já não é. Tem que deixar de ser periférico ou até quase uma ilha. Tem de deixar de pensar pequeno. Tem que passar a acreditar com a força de quem realmente acredita. Porque se assim não for, seremos apenas vítimas das leis de Charles Darwin, ficam os mais fortes, perecerão os incapazes…

Permanecer fechado por tempo indeterminado não é doloroso. Só será se quisermos que o seja. Quando não sabemos atacar, a defesa é o melhor a adotar. Para relaxarmos. Refletirmos, Reformularmos. Re-equacinarmos. Rebatermos. Reprojetarmos. Olhemos para trás com vontade de caminhar em frente e se encontrarmos algo que já não faz sentido, apaguemos. E tanta coisa do que temos feito não faz mesmo sentido. A insanidade mental é o fim para quem não controla os meios. Controlar significa dosear. Significa ter a capacidade de eliminar o que tem de ser eliminado. Acrescentar o que tem de ser acrescentado. Ao lixo o que é do lixo. Ao poder o que é poderoso. Criámos tanto lixo! Adoramos lixo… Adoramos o que nos dizem para adorar. Faz sentido? Não, não faz. Os pequenos podem crescer. Os fracos podem tornar-se fortes. Basta apenas não querermos ser mais uma vítima de insanidade mental. Mantermos o nosso cérebro saudável em corpo saudável. E para isso, o pouco pode ser pouco. O muito continuará muito se muito tiver que ser. Seremos o que for possível ser. Permaneceremos fechados enquanto fechados estivermos que estar. Abertos quando abertos for o tempo e o espaço para abrir. Sejamos aquele bocadinho do muito que contribuirá para pelo menos deixarmos a esperança de sobrevivência a quem por cá vai ficando. Evitemos fazer parte da lista dos idiotas e dos imbecis que mais não fizeram que valorizar o seu aspeto sob valores que mais não são os valores dos que se tornam milionários com eles.
Façamos da dignidade de cada um de nós o sentido que a vida definitivamente não tem mas que isso nos torne felizes e contribua, por pouquinho que seja, para a felicidade de quem prezamos e que por cá poderá continuar, se assim o quisermos…