E de repente todos temos que ser ultra-tolerantes com a diferença. Todos temos que ser “yes men” (ou “yes women”) perante o facto de que há homens e mulheres que decidiram ser extravagantemente diferentes, alegando que tudo isso faz parte da evolução da espécie. Bullshit, famosa expressão norte-americana que me apraz…[1]
O Homem converteu-se num bicho de modas. O modismo invadiu os espíritos das mais recentes gerações. As modas são lançadas pelos media, principalmente a TV. E agora a moda é a adoração à diferença. E os media já são muito controlados pelos “diferentes”. Isso, os “diferentes” rebelaram-se e, cansados de séculos de opressão, passaram ao ataque. Impiedoso. Sem tréguas. Sem quartel. E repentinamente todos têm que fazer a vénia a uma série de imbecis dotados de conceitos, dizem, evolucionistas. E aderir a eles. Porque se não, quem não o faz não é socialmente aceite, não é moderno, é olhado de lado e segregado até. Mas, temos pena, eu sou um clássico. E pacífico. E objetor de consciência. E há duas coisas que mexem violentamente comigo: as alturas e os imbecis que vêem na diferença a nova normalidade. Imbecis normalmente não se sentem culpados por o ser, tal como doentes mentais nunca admitem que o são. Faz parte da doença da imbecilidade não se ser capaz de reconhecer que se é imbecil, tanto como o doente mental raramente reconhece que está mentalmente doente.
Então agora eu tenho que fazer de conta que maricas[2] não é maricas? Tenhamos dó… Há uma estrondosa diferença entre eu possuir uma baixa tolerância a maricas, um facto, e praticar violência sobre eles por serem maricas, um não-facto. Nunca o faria! Sou realmente um objetor de consciência, não pratico qualquer tipo de violência física. Mas não consigo conter-me na questão da violência psicológica, aqui e ali, pontualmente. Eu não gosto de maricas, declaro, mas respeito o espaço deles enquanto eles não invadirem o meu, e assim tem acontecido, felizmente. Por mim, podem casar. Podem adotar crianças e brincar aos filhos que parecem felizes por terem dois pais ou duas mães. E até podem emitir as mais absurdas teorias sobre a sua mariquice, desde que se mantenham à distância. E eu também me manterei à distância. E vamos respeitarmo-nos mutuamente. Eu não tento convertê-los, eles não devem tentar converter-me. E todos viveremos felizes para sempre…

A nova estética…
Então agora eu tenho que fazer de conta que gosto de corpos tatuados e cravados de agulhas sem dó nem piedade? Tenhamos dó… Eu nem sequer gosto de vacas e bois com aneis cravados no nariz e nas orelhas, ou touros cravados de bandarilhas por marialvas a cavalo, vou agora gostar dos mesmos aneis cravados em narizes e orelhas de pessoas? Em mamilos? Em pénis? Em lábios? Em sobrancelhas? Eu nem sequer gosto de vacas e bois tatuados com as marcas dos seus donos, vou agora gostar de marcas similares no corpo de pessoas? Braços. Mãos. Pescoços. Peitos. Pernas. Mamma mia! Olho para um transeúnte da vida cheio de tatuagens e qual é a primeira impressão que tenho? Sujo! O gajo ou a gaja é um porcalhão ou porcalhona, não se lava, está cheio ou cheia de sarro[3]. E até podem emitir as mais absurdas teorias sobre os seus conceitos de beleza ou “nouvelle esthétique”, desde que se mantenham à distância. E eu me manterei à distância também. E vamos respeitarmo-nos mutuamente. Eu não tento convertê-los, eles não devem tentar converter-me. E todos viveremos felizes para sempre…
Se adoramos um deus ou deuses não temos que forçar os outros a adorar o mesmo deus ou deuses, eu acho. Eu não o faço. Nem o tento. Eu abomino aqueles imbecis que conduzem o seu topo de gama ou o seu quitado pelas ruas da cidade, de vidros abertos e com a sua “Hi-Fi auto” aos berros, ultrapassando largamente o número de decibéis recomendado pela DGS para precaver surdez prematura. E afinal o que quer esse meliante exibicionista? Que gostemos da música que ele gosta, tanto quanto ele. Tem que ser, pensa o meliante, esta música é fabulosa, acredita ele, e todos gostam com certeza. E se não gostam, passam a gostar. Imbecil! Tão imbecil como os que acham que temos que adorar o deus deles. As cores deles. Os piercings deles. As roupas deles. Os hábitos deles. O clube de futebol deles. O corte do seboso cabelo deles. As orientações sexuais deles. Os princípios deles. As crenças deles. E tudo o que eles, na sua luta por um espaço na ribalta a qualquer preço, defendem como sendo a forma correta de se ser e de se estar…
Estou-me borrifando bem lá do alto para os novos conceitos de modernidade! Os valores de hoje são o que são e pouco me importa que sejam o que são. A normalização do anormal é algo com que aprendi a viver mas com o que não tenho forçosamente de concordar, de todo. A legislação da aceitação da diferença é um claro atentado ao bom senso e, infelizmente, já passou a ser senso comum. Eu não quero gostar de pretos (ou de negros) porque isso fica bem, é politicamente correto, é moderno. Eu gosto de pretos, ou não, como gosto de brancos, ou não, como gosto de amarelos, ou não, de vermelhos, ou não. Eu não quero ser obrigado a tolerar tatuagens nem piercings. Até pode vir o presidente e o papa juntos tentarem convencerem-me de que só serei um menino lindo se aceitar pacificamente a violentação do corpo. Podem vir mas vão perder o seu precioso tempo. A Cultura e a Tradição devem ser respeitadas quando pela lógica e pelo bom senso faz sentido respeitá-las. É tão violento e tão desnecessário uma mulher espetar piercings nos mamilos ou nos lábios da vagina como um toureiro espetar ferros num touro. Não vejo beleza. Não vejo bom senso. Não vejo modernidade. E sendo tradição, não tenho que a praticar. E sendo cultura, não tenho que a absorver.
Vivemos tempos de um incomodativo pressionante apelo à adoração da diferença. E as gentes já têm medo de serem desqualificadas e desclassificadas por emitirem juízos contra o que passou a modismo nas suas sociedades. As gentes sentem-se ameaçadas e assumem implicitamente que aderir às modas as torna mais aceitáveis no grupo onde estão inseridas. É a ditadura social das minorias que, pasme-se, se vai impondo. E as minorias vão-se transformando em maiorias por efeito desta ditadura. Roupas extravagantes, cabelos artisticamente despenteados, vegetarianismos, veganismos, mulheres que se tornam machistas, homens que se tornam feministas, transexualismos, comportamentos excêntricos desprovidos dos valores e profundidade intelectual que, outrora, nos tornavam gente inteligente e que hoje… nos tornam estupidamente diferentes! O ser humano está a tornar-se cada vez mais aparvalhado e sentindo-se feliz com isso. Que bonito a mulher que amputa as mamas e o homem que amputa o seu pénis. O bebé proveta que se converterá em filho ou filha de casais homoafetivos. Claros sinais, entre muitos outros, de um mundo que desistiu de ser simplesmente simples para se tornar “diferente” a qualquer custo. O que parece interessar é que a diferença nos torne diferentes e assim estaremos in, cool, bué de modernos e… dormimos à noite que nem anjinhos papudos. Sobre uma cama diferente. Entre lencóis diferentes. Um pijama diferente. Cabeça sobre uma travesseira diferente. Um ressonar diferente. Uma diferença diferente. E entretanto…
Quanto mais investimos na diferenciação da aparência para nos tornarmos “bué de cool”, mais nos sentimos socialmente aceites mas mentalmente cada vez menos diferentes…
- Em Portugal pode traduzir-se para “conversa da treta”, “disparate” ou “conversa fiada”. No Brasil, “bobagem” ou “besteira”.
- Calão para designar o homossexual. No Porto existe um termo mais brejeiro: paneleiro!
- Termo usado no Porto para referir uma pele com sujo entranhado devido a falta de hábitos de higiene.