O meu primeiro Cat Woman foi escrito em 15 de Julho de 2019. Um ano depois, só posso dizer o que disse nessa altura mas agora a dobrar: se há animal que a mulher quer o menos possível chegado a ela, é o homem…
Tenho tido a possibilidade de observar com alguma frequência o comportamento de um dado gato. Bom, na realidade é uma gata mas para este meu devaneio sobre a mulher e a sua entrega a este felino doméstico, pouco importa. O gato é um animal com um tipo de perfil psicológico que me faz proferir amiúde a frase “não lhe faria nada mal consultar um psiquiatra”. É impressionante a quantidade de tempo que um gato consegue estar “sentado” a olhar para o infinito. Não mexe. Não pestaneja. Não desvia o olhar. Por vezes fica assim até lhe dar algum sono e aí só vemos um leve fechar dos olhos, indicador de um possível estado sonolento. De repente, sai disparado a grande velocidade e sob uma aceleração dos 0 aos 100 que só conheço nos felinos e nos automóveis desportivos topo de gama. Para quê e porquê? Nunca consegui descobrir! Concluí então que o gato começa a perseguir algo que só existe na cabeça dele. Tal e qual como as mulheres…

The Lady and The Cat.
A gata que tem sido objeto do meu estudo tem outro comportamento curioso: alta variabilidade na sua afetividade. Há dias em que ela olha para mim com aquele ar “olha, lá vem este!”. Por isso, em certos dias, não lhe ligo nenhum. É que não sou muito do tipo de passar cartão a quem me olha com aquele ar “olha, lá vem este”. Espante-se, é precisamente quando eu a desprezo que lá vem ela roçar-se nas minhas calças, escarrapachar-se à minha frente e a olhar para mim com aquele ar “vem, tou precisando duma coceirinha”. Agacho-me e lá me esforço para coceirar nos lugares onde imagino que as gatas mais apreciam ser coceiradas. Aí, a gata entrega-se toda e passa a parecer a criatura mais feliz do mundo, às mãos daquele que deixou de ser o “olha, lá vem este” para passar a ser o “olha, o fofinho”. Tal e qual como as mulheres…
A mulher de hoje já não é aquela de ontem que tinha como seu primeiro objetivo na vida encontrar o príncipe, que a tirasse de casa de seus pais e a levasse no seu cavalo branco, de crinas ao vento, ao castelo dos seus sonhos de menininha. A mulher de hoje já sai de casa de seus pais pelo seu próprio pé porque já não está muito virada para essa cena do cavaleiro de armadura reluzente e cabelos ao vento, dirigindo com firmeza o seu garanhão branco de crinas também ao vento. A mulher de hoje já não inclui nos seus planos de vida o macho salvador porque, dizem, até nem têm muito de salvador mas têm muito de dominador. A mulher de hoje está mais numa de andar por aí, dar umas passas aqui e acolá e entregar toda a sua afetividade a um gato. Ou gata[1]. A mulher de hoje já não se olha como sendo uma parideira onde o macho agressivo e dominador se limita a depositar a sua semente e depois o resto é problema dela. A mulher de hoje está cada vez mais parecida com o gato. Com vontade própria, independente e só faz rom-rom quando muito bem lhe apetece e com quem lhe apetece. Também está cada vez mais a fazer-me proferir amiúde a frase “não lhe faria nada mal consultar um psiquiatra” mas isso não é coisa que constitua preocupação para a mulher urbana dos tempos que correm…
A dedicação da mulher aos animais, em particular ao gato, é já algo com contornos obsessivos, penso eu. Se por exemplo olharmos no Facebook, a foto de perfil de uma mulher é, amiúde, ela e o gato. Mas também muitas vezes só o gato. Se entrarmos no perfil e procurarmos as fotos dessa mulher, o que vemos em grande maioria? O gato. O gato a dormir. O gato a comer. O gato a espreguiçar-se. O gato com olhar de gato. O gato ao colo dela. O gato a ser beijocado. Enfim, o gato tomou o lugar do marido e dos filhos, na vida de muita mulher. Claro que poderemos observar muitos perfis onde, em vez do gato, aparece o “lulu”[2]. Às vezes penso que esta é a forma feminina de vingança por milénios de submissão ao bicho homem. Claro que este meu inofensivo devaneio sobre o papel do gato na vida da mulher só faz sentido nas regiões do mundo onde a mulher tem algum espaço. Dados estatísticos indiscutíveis dizem-nos que são muito mais as regiões do mundo onde a mulher é um objeto do homem do que as regiões do mundo onde a mulher tem a liberdade de se entregar aos gatos, ou seja, onde o gato é objeto da mulher…
Que os deuses sejam omnipacientes…
Cat Woman