ELA – Deixaste a tampa da sanita para cima outra vez.
ELE – Deixei?
ELA – Sim, eu acabei de dizer que sim!
ELE – Tens a certeza que fui eu?
ELA – Quem mais poderia ter sido, podes dizer-me?
ELE – Tu!
ELA – Vamos, não comeces…
ELE – Começar o quê?
ELA – A desconversar, como sempre, é o que é.
ELE – Como assim? Porque não poderias ter sido tu?
ELA – Talvez porque eu sou mulher?
ELE – E daí?
ELA – E daí??? Haja paciência…
ELE – Sim, e daí? As mulheres também não podem levantar a tampa da sanita? Huh?
ELA – Pobre menininho, que engraçado que ele é! Agora as mulheres ficam em pé para fazer xixi…
ELE – Eu não disse isso, disse?
ELA – Disseste.
ELE – Não disse não! Agora és tu a desconversar…
ELA – Como assim? Eu iria colocar a tampa da sanita para cima? Eu preciso exatamente dela para baixo, porra…
ELE – Ei, ei, não começa a praguejar!
ELA – Eu não praguejei!
ELE – Praguejaste sim.
ELA – Não, não praguejei. E pára de te comportares como uma criança.
ELE – Ah, agora estou a comportar-me como uma criança…
ELA – Claro que estás, não dá para ver?
ELE – Ver? Não, não vi. Mas ouvi…
ELA – Pelo amor de Deus, ouviste o quê?
ELE – Tu a praguejares…
ELA – Pára! Pára! Deves estar a pensar que estás no tasco a falar com os teus amigos…
ELE – Ho, ho, segura aí os cavalos!! Que raio queres dizer com isso? Estás a dizer que estou bêbado?
ELA – Não, hoje não, eu acho…
ELE – Achas? Achas? Passei o dia inteiro contigo! Viste-me a beber, sua santidade?
ELA – Como posso saber? Não passo o tempo a ver o que fazes…
ELE – Passas sim, ai não se não passas…
ELA – O que que queres dizer com “Passas sim, ai não se não passas…”?
ELE – Quero exatamente dizer “Passas sim, ai não se não passas…”! É isso o que eu quero dizer…
ELA – Eu ouvi o que disseste! Não precisas repetir… Eu não sou surda!
ELE – Bom, às vezes pareces!
ELA – Pronto, agora, começa com as ofensas!!
ELE – Não estou a ofender a madama…
ELA – Estás sim.
ELE – Não, não estou.
ELA – Disseste que sou surda.
ELE – Ai foi? Isso é ofensa? Para quem disse que eu sou um bêbado…
ELA – Eu não disse que tu és um bêbado.
ELE – Sim, disseste.
ELA – Não, não disse! Eu só disse para não falares comigo como se estivesses a falar com os teus amigos no tasco.
ELE – Ai é? E como vª majestade pode saber como é que eu falo com os meus amigos no tasco?
ELA – Fácil de saber!
ELE – Ai é, ó deusa poderosa? Eu nunca te vi lá para saberes como falo com os meus amigos no tasco!
ELA – Eu também nunca iria a um lugar desses, nem morta!
ELE – Ora vejam só, a senhora perfeição…
ELA – Ficas insuportável quando estás a falar do teu assunto favorito: tascos!
ELE – Ai é? Mesmo? Não me lembro de ser o primeiro a usar a palavra “tasco”, fui?
ELA – Oh, pareces uma criança! Bem me disse a minha mãezinha que os homens nunca crescem…
ELE – Realmente? E as mulheres crescem? Que coisa crescida tu me saíste, madama! Começar uma briga só porque a tampa da sanita estava levantada…
ELA – Eu vi-a levantada porque TU a deixaste levantada. E não comecei briga nenhuma…
ELE – Deixei?
ELA – Sim, eu acabei de falar precisamente isso!
ELE – Tens a certeza que fui eu?
ELA – Quem mais poderia ter sido, podes dizer-me?
ELE – Tu!
ELA – Vamos, não comeces…
ELE – Começar o quê?
ELA – Caramba! Eu estou farta disto. Vou para casa da minha mãe.
ELE – Ah, a casa da mamãe! Tão original que ela é! A garotinha vai chorar no ombrinho da mamãezinha…
ELA – És um parvo!
ELE – Vai lá, vai, eu estarei a beber um copo no tasco. Ouviste? T A S C O.
ELA – Não admira, o teu lugar preferido…
ELE – Bem melhor do que estar aqui a aturar as tuas taras.
ELA – Eu não tenho taras…
ELE – Vai, vai lá, p’ró colinho da mãezinha! Já sei que voltas quando não tiveres mais lágrimas para derramar, pobre coitadinha….
ELA – És uma merda (sai e fecha a porta com estrondo).
Tema musical: “There is a War” por Leonard Cohen in “New Skin for the Old Ceremony” © 1974
Vídeo-clip: cortesia de Besyde com legendas em português.
Imagem frontal: de autor desconhecido.