Cá Estamos, Ipso Facto -p2

Cá estamos e não deixa de ser curioso constatar que nós portugueses estamos constantemente a repisar problemas e a deixar escapar soluções. Se não é deixar escapar, é seguramente procrastrinar. Ou se preferirem, adiar a resolução, assim na base de um dia o salvador virá, de luzente armadura sobre o seu lusitano cavalo branco, atravessando uma manhã de denso nevoeiro

Recorrendo à canção de um ilustre trovador da nossa terrinha, vejamos em que salgalhadas andamos navegando, felizmente ainda não afundando. Dizia então a famosa canção, em 1974:

Ah, só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão,
habitação,
saúde, educação

Vejamos como estamos nos dias que correm:

  1. Paz – não temos e cada vez está pior, ou seja, cada vez temos mais guerra e mais gente a querer fazer guerra. Nada de novo, andar à batatada faz parte do substrato humano.
  2. Pão – cada vez está mais caro, o pão e todos os produtos essenciais à alimentação do povo. Há cada vez mais portugueses a necessitar de recorrer à fila da sopa para sobreviver e aos alojamentos sociais.
  3. Habitação – tendo em conta a inflação, a especulação e a nossa falta de aptência para tratarmos do que é nosso, eu diria que o caos está instalado. Hoje já nem se consegue dizer se o melhor é arrendar ou comprar porque quer para um, quer para outro, requer-se muito dinheiro e este… Está reservado só aos eleitos.
  4. Saúde – ooh, está doente! Não sei se é doença grave ou aguda mas que a saúde, na pessoa do senhor SNS, está cada vez pior, ai isso está…
  5. Educação – aqui está a cereja no topo do bolo: a Educação em grande atribulação. E o Ensino também! Professores na rua em vez de estar nas salas de aula, sindicatos abespinhados[1] e ministro da educação com pouca vontade de ceder.

Que tal, hem? Palavras para quê, somos nós, os velhos Lusitanos. What else?!? O normal aqui na nossa terrinha é dizer-se que a culpa de tudo isto é do Governo e pronto, ficar-se de consciência tranquila. A coisa não está boa mas também não é preciso exagerar, tá? Nós liberdade temos, só que dadas as circunstâncias, não é a sério…

Está na hora de cá estarmos, em pé e em pé cá continuarmos, ipso facto…

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Ah, só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão,
habitação,
saúde, educação

Só há liberdade a sério quando houver
Liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir

“Liberdade”, canção de Sérgio Godinho em “À Queima Roupa” (c) 1974
Imagem frontal é cortesia do Coletivo PCP da Figueira da Foz (Muro Liberdade).

  1. Atente-se ao S.T.O.P., sindicato criado em 2018 e que se declara farto da “luta mansinha”.

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