Mal vai o país que tortura um visitante até à morte. Pior vai um país quando oculta esse facto. Pior ainda é a leviandade com que se trata a morte por tortura quando já não é possível esconder mais essa barbaridade, com tentativas de fuga para a frente, para trás e para os lados, tal que nem baratas tontas. E só temos que aceitar que Oksana Homenyuk, esposa do ucraniano Ihor Homenyuk que foi espancado até à morte numa divisão do SEF no aeroporto de Lisboa[1], afirme que, cito, “passei a odiar Portugal”…
Ihor Homenyuk até poderia estar ilegal. Até poderia ter tido comportamento inadequado com as autoridades. Ok, podia! Mas fica difícil imaginar o quão inadequado ele deve ter sido com a autoridade SEF para levar pancada até à morte! Isto aconteceu em Março deste ano. Estamos em Dezembro e só agora se pedem explicações. Surpreendente? Não! Não num país onde se abandonam velhos à sua sorte, a violência doméstica continua a aumentar a olhos vistos, a pedofilia já passou a normal e onde é moda ir para a rua protestar, contra não se sabe bem o quê, destruindo tudo à passagem…
Podem demitir a diretora, podem demitir o ministro, podem demitir o primeiro-ministro e até podem demitir toda a Assembleia da República. O mal continuará lá, ou seja cá, bem no âmago deste povo que orgulhosamente se diz de brandos costumes. Bem no âmago deste povo que se diz hospitaleiro e que da hospitalidade pretende auferir os rendimentos que lhe coloquem o pão na mesa. Mal vai o país que quer viver do turismo e que permite que visitantes sejam espancados até à morte, escondam o facto e inventem botões de pânico quando o facto não mais pode ser escondido. Mal vai o país que entrega a gestão de instituições cruciais, como é o SEF, a mente-captos que nem sequer percebem que implementar botões de pânico é reconhecer publicamente que os nossos visitantes estarão numa situação tão dificil que os conduzirá a um estado de pânico. Mente-captos que não fazem a ideia do que é estar em pânico, um estado em que, muito provavelmente, uma pessoa não terá sequer o discernimento mínimo para se lembrar que algures ali perto há um botão de pânico, ligado aos amigos das pessoas que lhe estão a provocar esse mesmo pânico. Mal vai o país que tortura um visitante até à morte…
Quem devemos acusar, nós Lusitanos que tanto gostamos de acusar? A nós! Todos. Todos os portugueses que estão convencidos que por outrora passarem ainda além da Taprobana, em perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana, e por entre gente remota edificarem novo reino, que tanto sublimaram[2], não mais precisam de se esforçar, perigos e guerras enfrentar e para todo o sempre sublimar este reino que, pelo contrário e infelizmente, continua a somar vergonhas. Nada há na nossa recente história que nos faça sentir orgulhosos. Nada há na nossa recente história que queiramos deixar como herança moral, nacional e patriótica, aos nossos filhos. Pelo contrário! Somos pequenos. Somos mesquinhos. Matamos os nossos velhos. Violentamos as nossas mulheres. Violamos os nossos filhos. Continuamos à espera que Dom Sebastião apareça numa manhã de nevoeiro para nos salvar. E espancamos até à morte quem nos visita. Tudo isto com um sorriso hospitaleiro no rosto…
Shame on us…
( leia o artigo da Visão )