Foi há 10 anos, aos vinte de março do anno domini nostri Iesu Christi[1], 2009, que escrevi algo sobre as bolinhas de prazer (ver aqui), numa alusão aos meus tempos de fumador crónico, já lá vão 23 anos…

Bolinhas de fumo…
Bom, de novo às voltas com os meus pulmões. A idade não perdoa e insuficiência respiratória não é, de todo, assunto interessante. A não ser que seja um assunto que tem muito a ver com os nossos problemas. Tenho ultimamente revisitado uma era que já era, ou que já foi, mas da qual não consigo me livrar por causa desta sensação de que o ar não entra lá muito bem onde deve entrar. Tal era faz parte de um passado revestido de contradições. Fumar faz mal mas sabe bem! Fui então, por mero exercício mental, procurar sinais do meu degredo: as marcas de tabaco que fumei. Pelo menos aquelas de que me lembro. E aqui está, sem grande trabalho consegui juntar umas tantas imagens na Internet. Tenho a certeza que muita gajada fumante da minha geração vai achar estas imagens umas queridas.
Quem se lembra da família SG? Eu fui, tal como muito ganapo da minha geração, um crónico do cigarro SG Filtro[2]. Aquele maço azul escuro que continha 20 pregos para o nosso caixão[3] vendia-se como lixo. Uns milhões de tugas deviam fumar essa marca. E se alguém quisesse prolongar o prazer por cada prego para o caixão, havia o SG Gigante. Um maço de cor vermelha com a mesma quantidade de pregos mas mais compridos. E finalmente o SG Ventil, primo do SG normal mas, dizia-se, mais fraco. Mais fraco porque era ventilado e por isso mesmo foi para esse que mudei já nos últimos anos da minha era de fumador. Bem, a ventilação eram uns orifícios no papel que englobava o tabaco, perto do filtro. Mais tarde aparece o SG Lights (menor quantidade de nicotina) ao qual nunca aderi.
Muitas foram as marcas ao longo dos anos 70 e 80. O adoçicado do Negritas, o taka-taka-taka do John Player Special[4], a encenação do “fumar à velhote” com o Kentucky[5], o Três Vintes que pouco fumei, o Ritz que tinha um sabor que eu não apreciava lá muito, o Definitivos[6] que definitivamente poucos fumavam, o Português Suave que de suave nada tinha mas que fumei e cuspi durante muitos anos. E outros que se vendiam por aí mas que eu nunca experimentei. Sem falar nos estrangeiros Marlboro e Camel que não competiam com os nacionais por serem mais caros. Eram os eleitos dos queques da Foz, meninos do papá que tinham nota para comprar cenas caras…
Fumar é um ato irracional. Ninguém fuma por uma boa razão. Ninguém fuma sequer por alguma razão que seja. Simplesmente se começa a fazer o que os outros à nossa volta fazem. Porque sim. Talvez em algum caso se faça isso para provocar ou irritar alguém. Adolescente adora provocar, contrariar, irritar. Os mais velhos de preferência. Isso, todos passamos por essa “aborrescente” fase em que nos convencemos a nós próprios que o mundo estava à nossa espera para ser salvo. Ou para mostrarmos aos velhotes que eles estão passados, ultrapassados e fora do prazo. E para mostrar que nós somos super, que até fumamos e o fazemos com muito mais estilo…






Fumar dá prazer? Dá. Deixar de fumar dá prazer? Dá. As vantagens físicas em largar a nicotina são mais que muitas:
- respira-se melhor
- cansamo-nos menos
- acabam-se as crises de tosse, catarro e pigarro
- o nosso cérebro recupera agilidade
As vantagens sociais também são algumas sendo a mais interessante a recuperação de alguma liberdade por redução da nossa dependência. Deixar de fumar compensa. Traz prazer. Dá vontade de não voltar a fumar mais. Mas volta-se! Isso, vício é assim mesmo, agarra-se a nós que nem sanguessuga, que nem diabo a alma perdida, que nem mulher perdida de paixão. E vacilamos. E procuramos razões para ceder. E procuramos apoio de amigos para ceder. E tantos são os bons amigos que nos ajudam a ceder. Até um dia… Aquele dia em que a vontade existe e é mais forte que qualquer adamastor que atormenta a nossa existência de navegantes numa vida que, definitivamente, não faz sentido. A chave é a vontade. Sem vontade, nem vale a pena começar a tentar. Porque quando temos vontade não decidimos tentar fazer. Fazemos.
Eu fazia umas bolinhas de fumo muito perfeitinhas…
- Não me levem a sério, tá?
- Só para reforçar que tinha filtro, ao contrário de várias outras marcas de cigarro sem filtro como o Português Suave.
- Dizia-se isso entre fumadores…
- O cigarro continha uns cristais perto do filtro que reforçavam a filtragem e que se ouviam se se agitasse o cigarro.
- Extremamente popular entre os velhotes da época era o campeão dos cigarros classificados de “mata ratos”.
- Também muito fumados pelos velhotes.