Aridez Emocional

A diferença entre ‘sentimento’ e ‘emoção’ ou entre o ‘estado sentimental’ e o ‘estado emocional’ é tão ténue que por vezes é tida como nenhuma. Na qualidade de homem pragmático, que em mim tomo como uma caraterística inata, não sou muito dado a um ou outro estado mas, em compensação, nutro uma elevada simpatia por ambos.

Estava eu conversando com alguém sobre as coisinhas da vida até que esse alguém veio com a expressão: “Estou presentemente em fase de total aridez emocional“. Gostei! Da confissão sincera. Da expressão “aridez emocional”. Então pensei que seria giro fazer um exercício escrito no meu blog sobre o assunto. Não o faria nunca sob uma perspetiva técnica, porque me falta a bagagem para tal, mas na perspetiva, digamos, do consumidor. O animal humano é sentimental e emocional, uns mais que outros. Eu nem por isso mas acontece que reconheço que aqui e ali tenha passado e continue a passar por uma fase de total aridez emocional ou sentimental. Não há verdadeiros homens pragmáticos que sejam muito sentimentais ou muito emocionais e eu, como pragmático, repito, tenho uma visão do mundo algo matemática. Alguns dirão que sou “frio e calculista” mas parece-me difícil imaginar um animal humano sem um mínimo de emocões e sentimentos. Mas afinal, o que é isto do emocional e do sentimental?

Eu diria que ‘emocional’ é algo muito físico. Medo, raiva, tristeza, vergonha, ciúme, são emoções. O nosso corpo é muito sensível a muitos estímulos externos que, dependendo muito da nossa química, eletricidade e magnetismo, podem causar reações diferentes em pessoas diferentes. Isso é óbvio! Não sou do tipo emocional! Em contrapartida, noto que há muita, muita gente emocional. Demais, até! Eu, por exemplo, adoro futebol, mas quando o meu clube favorito marca um golo, não pulo da cadeira como se tivesse molas sob os pés, não berro até ao infinito e muito menos me ponho a abraçar e beijar quem me rodeia. O mais longe que costumo ir, quando o meu clube marca um golo, é dar um grito de leão relativamente tímido usando a palavra ‘golo’ e sentir uma ligeira fervura pelo corpo. Ser emotivo é bom! Ser emocional demais é péssimo. No caso dos relacionamentos, do amor entre dois animais humanos, a emoção pode dar lugar à paixão que é tão mais forte quanto mais emocional se é. Estar apaixonado é bom. Estar loucamente apaixonado, é péssimo. Sugiro que as pessoas não tenham medo da paixão, do amor ao rubro. Apenas acho aconselhável que tentem evitar a louca paixão…

Eu diria que ‘sentimental’ é algo muito mental. Amor, ódio, respeito, são sentimentos. Eu diria que primeiro vem a emoção. Então o nosso cérebro processa-a e gera o respectivo sentimento. Finalmente, esse sentimento gera emoções consequentes. Facilmente dito, a emoção ‘amor’ pode gerar o sentimento ‘amor’ que, por si só, irá reforçar a emoção ‘amor’. Idiotice? Muito complicado? Se for, então simplifique-se a equação e tome-se o ‘sentimento’ como sinónimo de ‘emoção’ ou vice-versa. Deixemos a mente fervilhar e chamemos-lhe o que mais rápido nos vier à mente, emoção ou sentimento. Assim a vida correrá leve e fácil mas, de facto, sentimento é uma coisa, emoção é outra…

Por que diabos estou a escrever sobre emoções e sentimentos? Nada de especial! Só porque eu estava conversando com alguém sobre as pequenas insignificâncias da vida até que esse alguém veio com a expressão “Estou presentemente em fase de total aridez emocional.” e eu gostei. Porém, se falarmos dos nossos comportamentos no plano profissional, sugiro que se evite a expressão de sentimentos e a libertação de emoções. Garanto que se assim for, evitar-se-ão situações laborais menos prazeirosas. Em suma, no local de trabalho, que é onde se passa a maior parte do dia-a-dia, adopte-se o estado de aridez emocional e faça-se uma gestão adequada da sentimentalidade…

Que os deuses sejam sentimentalmente emotivos connosco…